Cinco razões para subir à Serra da Aboboreira

Dolmen de Chã de Parada (Foto AMDT).

Serra tem, desde agosto do ano passado, a classificação de Área de Paisagem Protegida Regional.

Amarante particularmente, mas, de uma forma geral, o Baixo Tâmega, tem uma oferta turística muito diversificada. Seja do ponto de vista histórico, monumental, cultural ou ambiental. 

E é de ambiente que lhe queremos falar. Convidamo-la(o) a subir à Serra da Aboboreiradesde agosto do ano passado classificada como Área de Paisagem Protegida -, indicando-lhe cinco razões por que o deve fazer.

Antes, porém, fique a saber o seguinte: a Serra da Aboboreira (que ocupa uma área total de 118,9 quilómetros quadrados e se distribui pelo território de três Municípios: Amarante, Baião e Marco de Canaveses) tem toda a sua morfologia influenciada por duas linhas de água, onde correm os rios Ovil e Fornelo. Eleva-se até uma altitude de 1 000 metros, destacando-se, pela sua importância, três pontos: o da Abogalheira, com 962 metros; o de Meninas, com 970 metros e o da Senhora da Guia, com 972 metros.

A Aboboreira foi povoada desde o Paleolítico Inferior (30.000 anos aC), época de que data o mais antigo achado ali recolhido (um acheuleuse talhado num calhau rolado de xisto metafórico[1]) e apresenta inúmeros vestígios do Neolítico e da Idade do Bronze, datados de 2 500 aC, como o Dólmen de Chã de Parada. O povoamento mais intenso das aldeias da serra data do início da nacionalidade, com os seus habitantes a viverem exclusivamente da agricultura e da criação de gado.

A maior parte do território da serra é coberto por vegetação rasteira (tojo, urze, giesta…), apresentando, na periferia, importantes conjuntos arbóreos de espécies nativas como o carvalho e o castanheiro.

Este tipo de vegetação alberga uma fauna de pequeno porte (aves de rapina, anfíbios, répteis, aves migradoras e mamíferos como o lobo, javali, raposa, coelho, doninha, fuinha, gato selvagem e lontra), para além de (ainda alguns) rebanhos coletivos de cabras e ovelhas e de gado bovino que, diariamente, procuram a sua alimentação nas planuras dos montes. 

Porquê subir à Aboboreira?

Vamos, então, às cinco razões que o devem levar à Serra da Aboboreira (a ordem é arbitrária).

As aldeias

Outrora muito povoada, a serra acolhe várias aldeias preservadas, como é o caso de Travanca do Monte, Carvalho de Rei, Castelo ou Aldeia Velha. As suas casas, construídas em granito (e algumas ainda cobertas a xisto) remetem para a arquitetura tradicional. Em qualquer das quatro existem núcleos de espigueiros, associados ao cultivo de cereal, designadamente milho. 

(Na aldeia de Travanca sobressai a Casa da Levada, ligada à família de Teixeira de Pascoaes, onde o escritor passava algumas temporadas e buscava inspiração para os seus escritos. Miguel Sousa Tavares, que na sua infância morou dois anos na Casa do Cavalhal, em Jazente, no sopé da serra, era também visita da Casa da Levada.

No seu livro “Cebola crua com sal e boroa”[2] relata, assim, a subida à Aboboreira: “Um estafeta subia à serra com dois dias de antecedência, para avisar da nossa visita iminente e descia, depois, trazendo a resposta de que estava tudo a postos para nos receber. No dia combinado íamos de carro, por estradão de terra, até ao sopé do monte. Aí largava-se o carro e todos embarcavam em dois a três carros de bois que nos aguardavam. (…) E começávamos a subir como quem se dirige ao paraíso”).

Vista geral de Travanca do Monte (Foto AM).
Pormenor da aldeia de Carvalho de Rei (Foto AM).

As rotas

Se é caminheiro, se as rotas e os percursos de montanha são um dos seus desafios, precisa conhecer (e fazer) os que a Associação de Municípios do Baixo Tâmega desenhou na Aboboreira: a PR1, por exemplo, designada de Trilho das Florestas Naturais, numa extensão de 12,5 quilómetros e grau de dificuldade médio a difícil. Para além do património florestal, esta rota leva os seus utilizadores a alguns dos mais míticos lugares da serra, como Chã da Parada, cuja Anta é património Nacional desde 1910; Fonte do Mel; Menina do Crasto 3; Pedra do Sol e Senhora da Guia.

PR4: A PR4, designada de “Trilho dos Dólmenes”, tem uma extensão de 12,30 quilómetros, com partida do Centro Hípico/BTT de Baião e chegada à aldeia de Almofrela. No trajeto ficam Outeiro de Gregos e Outeiro de Ante, cada local com o seu conjunto de Antas; Mina do Simão (um monumento megalítico) e a aldeia de Aboboreira, que dá nome à serra.

PR5: A PR5, designa-se de “Rota das 5 aldeias e da água”, tem dificuldade moderada e uma extensão de 11,9 quilómetros. Tem partida da aldeia de Carvalho de Rei, e o trajeto inclui o tanque de Aldeia Velha e a levada e moinhos de Carvalho de Rei. 

Passeios de bicicleta e BTT

A Aboboreira não é, apenas, atrativa para caminheiros. A serra tem desenhados quatro percursos cicláveis, lineares e circulares, de dificuldade variável, num total de 121,8 quilómetros.

As paisagens

A Aboboreira oferece paisagens deslumbrantes, havendo quem diga que, em dias límpidos, da Senhora da Guia se consegue alcançar o mar. Quem gostar de fotografia tem na serra vastos motivos para um safari fotográfico, que pode incluir fauna e flora. Mas também património construído, com destaque para as habitações serranas, as eiras e os espigueiros.

As pessoas

É verdade que a Serra da Aboboreira tem, hoje, uma população envelhecida, mas que, por isso mesmo, é o repositório de uma cultura de antanho, rica de tradições e de saberes e de interação fácil e espontânea. Não há aldeia da serra que não recorde a “Chulada de Carvalho de Rei” que animou serões, desfolhadas e romarias ou dos grupos (às vezes espontâneos) de cantadores ao desafio. Em Carvalho de Rei celebra-se o entrudo em cada terça-feira de Carnaval com a realização da Feira do Fumeiro.

A História e o património

Habitada, como já se referiu, desde o Paleolítico, a Aboboreira (de onde se admite terem partido os povos que fundaram a cidade de Amarante) é um compêndio vivo de Arqueologia. Visitar o seu Campo Arqueológico é mergulhar na História profunda.

DESCRIÇÃO

O Núcleo de Arqueologia do Museu Municipal de Baião apresenta a exposição permanente “Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira”, sobre os vestígios da ocupação desta região desde a Pré-História até à Idade Média. Desta exposição, destaca-se a maqueta com 120 figurinhas humanas, que ilustra as diferentes fases de construção de uma anta e da respetiva mamoa (montículo em terra e pedra)[3].

Em vários locais da serra existem também sítios arqueológicos identificados como “castelos”. Tratam-se, na maioria dos casos, de estruturas muito rudimentares, formadas por adaptações topográficas, cortes na penedia, taludes artificiais ou muralhas de pedra irregular, sem recurso a argamassas[4]. Serviriam para defesa dos povos que viviam no seu interior.

Como vê, não faltam razões para, um dia destes, subir à Aboboreira. Esta primavera aventure-se pela serra e desfrute de tudo o que esta tem para lhe oferecer. 

Seja bem-vinda(o)!


[1] Afonso do Paço, 1979
[2] Edição Clube do Autor, SA (2018)
[3] In Turismo do Porto e Norte
[4] In “Património Cultural”, Serra da Aboboreira. AMBT (Associação de Municípios do Baixo Tâmega)

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