O exemplo das papas Olo frutificou e não tardou que outras freguesias criassem as suas festas ou feiras, que puxassem pelas idiossincrasias locais, mas que atraíssem também visitantes urbanos, tomados por reminiscências e ávidos por poderem desfrutar das culturas locais e de territórios ricos (virgens, dir-se-ía) do ponto de vista ambiental e da natureza, para cujo desbravar as (estratégicas) caminhadas deram um enorme contributo. A aposta está ganha.
Canceladas a partir de março de 2020, devido à pandemia, estão em regresso pleno as feiras e festas de inverno em freguesias rurais de Amarante. Todas elas com ligações às tradições e cultura locais, seja do ponto de vista etnográfico ou gastronómico.
A primeira aconteceu em novembro (era ainda outono) na freguesia de Rebordelo. Tratou-se da Festa do Caldo das Coibes, durou três dias e, como é hábito, fez deslocar a Rebordelo, em plena serra, centenas de visitantes. Aos almoços e jantares de cada dia foram servidos “caldo de coibes” e bolo da comadre, duas iguarias típicas da freguesia. O “caldo das coibes” é uma sopa avantajada, “adubada” com ossos da assuã, muito associada a trabalhos rurais e na floresta. O bolo da comadre é uma bola de pão de trigo, recheada de fumeiro e outras carnes de porco.
À Festa do Caldo das Coibes, vai seguir-se, no fim de semana de 28 e 29 de janeiro, a Feira dos Rojões, em Fridão. Os rojões (e outros petiscos) dão o mote gastronómico para as tasquinhas, mas a feira inclui uma mostra de produtos locais (artesanato, produtos agrícolas, licores, bolos e doces) e animação diversa, com destaque para a música.
A exemplo de quase todas as outras feiras e festas locais, a Feira dos Rojões de Fridão proporciona uma caminhada pela montanha (neste caso pela Serra da Meia Via, ao logo de 10 quilómetros), que levará os participantes ao interior das Minas de Vieiros, onde até à década de 1970 se explorou volfrâmio.
A 17, 18 e 19 de fevereiro realiza-se mais uma edição da pioneira Feira das Papas de Olo com programa que inclui muita música popular, venda de produtos locais, uma caminhada e um Free Trail e, claro, a degustação das papas: de couve, de nabiça e de sarrabulho.
As papas de Olo remetem para as tradições locais, marcadas por uma grande ruralidade e por atividades associadas aos trabalhos do campo e da floresta, a exigirem mão-de-obra bem alimentada e possante. O evento que as celebra acontece no fim-de-semana imediatamente antes do Carnaval, marcado, também, por particularidades gastronómicas baseadas na matança do porco e no aproveitamento das suas carnes.
Na terça-feira de Carnaval, 21 de fevereiro, a aldeia de Carvalho de Rei, provavelmente o mais mítico povoado da Serra da Aboboreira, realiza a sua Feira do Fumeiro e a freguesia de Gondar sai à rua para celebrar o Carnaval com um desfile que caricatura situações locais e celebra a cultura dos gondarenses, onde pontifica o barro negro.
No primeiro fim de semana de maio tem lugar o muito concorrido Festival do Verde de Sanche. Trata-se de um prato (o verde) feito à base dos miúdos do anho. Serve-se como entrada, mas há também quem o entenda como prato principal. Nos anos cinquenta e sessenta do século passado era prato certo em casamentos, sendo servido em casa da noiva antes da partida para a igreja. O Festival do anho de Sanche tem, também, a sua caminhada e muita música.
Atração de visitantes passa por aqui
As feiras e festas locais nas freguesias mais rurais de Amarante, não ligadas a oragos ou a celebrações religiosas ou civis, tiveram início com a Feira das Papas de Olo, em 2004, que rapidamente se tornou um evento incontornável no calendário de Amarante.
A dimensão que havia atingido ao fim das primeiras quatro ou cinco edições foi conseguida pela manutenção da sua genuinidade sem cedências em termos de qualidade, sendo potenciada pela Junta de Freguesia como parte de uma estratégia para dar visibilidade e notoriedade a Ôlo, tendo como fim o desenvolvimento e crescimento da economia local.
O exemplo de Olo frutificou e não tardou que outras freguesias criassem as suas festas ou feiras, que puxassem pelas idiossincrasias locais, mas que atraíssem também visitantes urbanos, tomados por reminiscências e ávidos por poderem desfrutar das culturas locais e de territórios ricos (virgens, dir-se-ía) do ponto de vista ambiental e da natureza, para cujo desbravar as (estratégicas) caminhadas deram um enorme contributo. A aposta está ganha.