Concurso de Fotografia homenageia Alexandre Pinheiro Torres

Foto: VISÃO

A Associação para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto anunciou a abertura do 9º Concurso de Fotografia Ilustre Amarantino (CFIA), cujo personagem/tema é Alexandre Pinheiro Torres .

Escritor, poeta, ensaísta e crítico literário, formou-se em Físico-Químicas, na Universidade do Porto, e em Histórico-Filosóficas em Coimbra, cidade em que conheceu Joaquim Namorado e os poetas do Novo Cancioneiro. 

O percurso atribulado de Pinheiro Torres começou, depois de uma passagem na sua infância por São Tomé, a partir de um convívio estreito com Alexandre O’Neill, em Amarante.

Era fulminante nas respostas que dava, um traço, de resto, que ao longo da sua carreira literária, e em particular enquanto crítico, não perderá de vista até ao fim.

Alexandre Pinheiro Torres estreou-se na poesia, em 1950, com Novo Génesis, fundando um ano depois, com Egito Gonçalves, a revista Serpente. Começa a frequentar a tertúlia dos neo-realistas, na Pastelaria Smarta, em Lisboa, onde predominam Castro Soromenho e Carlos de Oliveira. 

Com Abelaira ou Herberto Hélder faz parte de outras tertúlias, nos cafés Bocage ou Montecarlo. E continua a escrever poesia. Mas é pela sua atividade enquanto neo-realista – mordaz e virulento – que começa a dar nas vistas, sobretudo na década de 60. Temido e odiado por mitos, chegou mesmo a deixar e falar com O’Neill durante 15 anos. A professora e ensaísta Maria Alzira Seixo não teve dúvidas: “Pinheiro Torres marcou posição nas letras portuguesas contemporâneas como crítico, nomeadamente no seu livro Romance: O mundo em Equação, de 1967. Nele assume frontalmente as teses neo-realistas vigentes e desenvolve-as com coerência, radicalismo e espírito de controvérsia, não só através das polémicas, que na altura manteve com figuras da época, como em leituras que desenvolveu de textos de autores como Carlos de Oliveira, Cardoso Pires e Alves Redol, documentos de extrema importância e exercícios de interpretação ideológica de muita penetração crítica.” Documentos que verteu na imprensa, regularmente no Diário de Lisboa, mas também na Colóquio/Letras, Seara Nova, Vértice, no JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias e, entre muitas outras publicações, no Avante!. Mas o escritor, apesar de ter sido simpatizante do PCP, nunca militou nas fileiras comunistas. Preferia assumir-se como “compagnon de route”. A polémica mais violenta, e ainda hoje recordada, foi a que manteve com Vergílio Ferreira, em torno do livro de estreia de Almeida Faria, Rumor Branco. No entanto, quando o autor de Aparição faleceu, Pinheiro Torres, num depoimento ao Público, não teve papas na língua: “Tenho consciência de que faleceu um dos maiores escritores que tivemos neste século. Ao apertarmos as mãos, apertámo-las verdadeiramente para além da morte”.

Da convivência com esses poetas, com o movimento dos neorrealistas e na sequência de ter feito parte do júri da Sociedade Portuguesa de Escritores, que atribuiu ao livro Luuanda, de José Luandino Vieira, o Grande Prémio de Ficção, foi, em 1965, proibido pelo Estado Novo de exercer a docência. Exilou-se, então, primeiro no Brasil e, depois, em Cardiff, no País de Gales, onde foi professor na respetiva universidade e onde criou a disciplina de Literatura Africana de Expressão Portuguesa. Em 1976 criou o Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros. 

Desde a partida para Cardiff, a sua relação com Portugal é de ódio-amor. “Toda a ficção de Pinheiro Torres é construída a partir da ideia de que Portugal é um país menor”, notou Eunice Cabral na recensão que fez de Vai Alta a Noite (em Público de 8-11-97). 

Quando falava do mundo literário português não estava com meias-tintas. E partia a loiça. “Somos pobres com alma de ricos”, dizia, para incómodo de muita gente, no III Congresso de Escritores Portugueses, em 1991.

Pinheiro Torres, de resto, logo que as aulas acabavam vinha a correr para Portugal, onde passava férias em Amarante, no Algarve e voltava à Póvoa de Varzim.

O autor de A Ilha do Desterro, O Adeus às Virgens, A Nau de Quixibá, Espingardas e Música Clássica, Sou toda Sua Meu Guapo Cavaleiro ou O Meu Anjo Catarina é uma das vozes menos classificáveis da literatura Portuguesa. O “terrível Torres” – como era apelidado na praça literária – deixou uma obra única no plano ensaístico, na poesia e na ficção.

Faleceu em 1999, em Cardiff, País de Gales, vítima d doença prolongada. Ali viveu mais de 30 anos, onde era professor da universidade local e onde criou a disciplina de Literatura Africana de Expressão Portuguesa.

Recebeu em 1979 o Prémio de Ensaio Jorge de Sena atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores, em 1983 o Prémio de Ensaio Ruy Belo e o Prémio de Poesia pela APE. É cidadão honorário de São Tomé e Príncipe e membro da Academia Maranhense de Letras de São Luís do Maranhão, Brasil.

Parte importante do seu vasto espólio foi doado à Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.  

CONTINUAR A LER

Leave a Comment

You may like