Memória de Gondar no Museu Rural do Marão

Pormenor do Museu Rural do Marão (Foto de Paulo A. Teixeira).

A Casa do Oleiro e Museu Rural do Marão, em Gondar, oferece uma oportunidade única de se aprender sobre a vida rural e a história da região através de sua coleção de artefactos e exposições. Contudo, é o testemunho “vivo” de Glória Andrezo, atualmente responsável pela manutenção do equipamento, que dá o verdadeiro enquadramento a um modo de vida que, aos poucos, desapareceu.

Lola Andrezo (Foto de Paulo A. Teixeira).

“Muitas destas peças são-me familiares, ainda tenho memória de alguns destes ofícios, como o cesteiro, o oleiro e o barbeiro, entre outros” começa por explicar, a AMARANTE MAGAZINE a cuidadora desta importante equipamento local, o única do seu género no concelho.

Instalado no antigo “engenho” de azeite da Quinta do Encontro, em Vila Seca, o Museu Rural do Marão acolhe um espólio representativo da história da região, nomeadamente de arte sacra, olaria de barro preto e artefactos relacionados com as atividades e ocupações de cariz essencialmente rural.

Esta coleção de peças, muitas delas cedidas ou doadas por privados, recorda profissões entretanto desaparecidas como a carpintaria, cestaria, tecelagem e o ferreiro, entre outros.

“A memória que tenho mais viva é a do barbeiro ambulante, por exemplo. Quando aparecia, era uma festa, para nós, crianças. Mas para os adultos, para além do serviço que providenciava, era uma importante fonte de informação, pois também dava as novidades, informando do que se passava nos vários sítios da freguesia”, acrescenta Lola, como é conhecida localmente.

Para além de ser responsável pela manutenção do equipamento, Lola também é guia turística de quem visita o museu. “À minha maneira, tento dar uma ideia às pessoas do como era a vida e qual a utilidade dos vários utensílios, a partir dos meus conhecimentos. Praticamente tudo que está aqui, em exposição, eu conheço, é-me muito familiar”, acrescenta.

Além da exposição permanente, o museu é igualmente palco para a realização de eventos e acolhe atividades relacionadas com calendário agrícola, bem como eventos focados na gastronomia e na tradicional olaria.

Tear de tecelagem tradicional (Foto de Paulo A. Teixeira).

A olaria de barro negro, atividade artesanal que, em tempos, ocupou lugar de destaque nesta freguesia, também é representada no museu. Praticamente desaparecida da região, em meados dos anos 80 do século passado, esta arte subsiste atualmente graças aos esforços locais e de um único artesão.

Apesar de ser descendente direta de oleiros de Gondar, Glória Andrezo conta que só após regressar da Suíça, onde esteve emigrada durante sete anos, é que descobriu que tinha “mãos” para a arte do barro negro.

“Inscrevi-me na Escola Oficina, entre 2002 e 2003, onde descobri que tinha a predisposição para a olaria. A formação incluiu trabalho de roda, mas foi no figurado que encontrei maior aptidão”, explica.

Apesar de a formação ter sido curta e centrada na arte sacra, conta que ficou com “as luzes” suficientes para explorar e expandir a sua arte a outros temas. “Produzi muitos São Gonçalos, mas depois também fiz animais, por exemplo, coisas que me atraíam mais”, acrescenta.

Muitas das suas peças já foram vendidas, mas algumas ainda estão em exposição na loja da Dólmen ou na recentemente criada Loja do Artesão, no Mercado Municipal de Amarante. Contudo, raramente trabalha o barro, justificando que moldar aquele material é “uma tarefa árdua”, sobretudo nas mãos, dada a dureza da matéria-prima.

“Por outro lado, o processo de cozedura só pode ser feito quando se realizam soengas, na Casa do Oleiro, porque não tenho meios próprios para a realizar, em casa”, conclui.

O Museu Rural do Marão, localizado em Vila Seca, Gondar, abre ao público em horário por definir mediante marcação prévia, através da Junta de Freguesia de Gondar.

Nota: este artigo foi publicado originalmente na edição em papel número 38 da revista AMARANTE MAGAZINE (Inverno 2024).

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