Rui Fernandes: “Tenho a viola amarantina no meu colo várias horas por dia”

Rui Fernandes (Foto AM).

Professor, músico e programador cultural (é produtor do festival “Magos da Guitarra”), Rui Fernandes descobriu a viola amarantina em 2017 e nunca mais se separou do instrumento. O ano passado, gravou o primeiro álbum (duplo, a solo e em quarteto) tendo a viola amarantina como base e já tem em preparação o segundo.

A “viola dos corações”, como é conhecida a viola amarantina, tem, desde, sensivelmente, meados da primeira década do século XXI, provocado paixões e amores à primeira vista em muitos músicos e cantores que com ela contactam.

A fadista Ana Moura, por exemplo, com ligações familiares a Amarante, tem manifestado publicamente o desejo de a ter nos seus discos, lado a lado com a guitarra portuguesa.

Tiago Pereira, criador do projeto “A música portuguesa a gostar dela própria”, haveria também de se enamorar da viola amarantina, como muitos outros músicos, profissionais ou não.

Rui Fernandes, professor na Escola Básica do Marão, e com formação superior em música, tomou-se de amores pela viola amarantina, ali mesmo, em 2017. Desafiado por um colega a comprar um exemplar daquele instrumento, acedeu, tendo começado a explorá-lo no que respeita a timbres e acordes ou aos jogos de sons que, dele, conseguiria extrair. E não mais o largou. 

“Das violas de arame existentes em Portugal, talvez seja, por enquanto, a menos conhecida. A que terá mais notoriedade será a viola braguesa, não obstante serem violas irmãs. Diria que aquilo que mais as diferencia é o tampo. Quanto à ilharga e comprimento são idênticas”, considera Rui Fernandes.

Em termos das sonoridades que se extraem de uma ou de outra, “aí já depende das madeiras utilizadas na sua construção. Globalmente, diria que o som que se tira da viola amarantina consegue ser menos agreste, mais doce, mais aveludado, ainda que isso também dependa da afinação que se usa”.

Depois de muito trabalho, atuações pelo país, mas também na América Latina, por exemplo, há cerca de um ano Rui Fernandes editou um álbum de instrumentais, designado “Viola Amarantina”, com 11 temas originais, a solo ou em quarteto, com músicos vindos da área do jazz.

“A viola amarantina é um instrumento muito versátil, afirma. Posso dar um exemplo: no meu álbum há uma peça chamada “Querido Paredes”, que dedico ao Carlos Paredes, na qual eu faço uma abordagem com a viola amarantina com um caráter de guitarra portuguesa. Ou a peça “Dolente na tarde calma”, que é uma música com um swing muito jazístico…”

Há, de facto, em algumas das músicas do álbum um “cheirinho” a Diana Krall, atirámos-lhe. Acha?, pergunta. Já ganhei o dia”! Os três músicos com quem formo o quarteto estão na área do jazz, têm os seus próprios projetos, mas não resistiram quando, depois de os ter levado a conhecer a viola amarantina, os convidei para gravar. Eles próprios deixaram-se entusiasmar e é para todos um desafio estar neste projeto, tocando e tendo a viola amarantina como base”. 

E acrescenta: “Que eu saiba, a utilização da viola amarantina em toadas de jazz nunca aconteceu antes. E isso diz do seu ecletismo e do que é possível tirar dela. Mas o importante é que seja utilizada: em casa, em rusgas, em folk ou na música tradicional”. 

Nos seus espetáculos, Rui Fernandes faz atuações a solo, em duo (com contrabaixo), ou em quarteto (piano, contrabaixo, percussão e viola amarantina).

Ensinar a viola amarantina

Tendo começado na música como autodidata, e passado por grupos de baile, festas e bares, Rui Fernandes acabou por adquirir formação em guitarra clássica, trabalhando com vários professores da área. 

“Isso fez-me colocar as mãos como sempre deveria ter sido. Quem aprende sozinho, fá-lo improvisando, sem uso de posições e técnicas exigidas. A formação clássica que adquiri endireitou-me as mãos e deu-me a liberdade de fazer o que hoje consigo e que estou a transpor para a viola amarantina. Já não toco clássico ou folk, por exemplo, e dedico-me quase exclusivamente à viola amarantina. Tenho-a no meu colo várias horas por dia !” confessa.

A paixão pela viola amarantina faz com que, a breve prazo, Rui Fernandes passe para lá da sua condição de estudioso e executante do instrumento e assuma, empenhado, o papel de professor e formador. Em preparação está a criação do “Centro de Estudos e Interpretação da Viola Amarantina”, numa parceria com a União de Freguesias de Aboadela, Sanche e Várzea, que terá instalações no edifício da antiga Junta de Freguesia de Várzea (Amarante).

“O que pretendo, é transmitir a quem o quiser, aquilo que sei sobre a viola amarantina, proporcionando o seu estudo e a apropriação da capacidade de interpretação do instrumento, mostrando-se em público com a viola afinada e conseguir passar as emoções que lhe estão associadas”, disse Rui Fernandes a AMARANTE MAGAZINE

“Este projeto poderia, eventualmente, nascer em qualquer outro sítio, mas o local certo é este, porque foi aqui que começou, com o Propagode, a divulgação da viola amarantina e se criou o movimento que a trouxe de volta. Se a iniciativa tiver o sucesso que espero, poderemos, mesmo, vir a criar ali um pólo cultural, na área da música, para a região”, concluiu.

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