António Santos, que o mundo da caricatura conhece como Santiagu, inaugura, na Casa da Granja, em Amarante, no próximo sábado, 24, pelas 16:00, uma exposição de caricatura e cartoon, designada de Eloquência do lápis”, acrescentando, por certo, valor e notoriedade a um espaço expositivo muito focado, até agora, na fotografia e na pintura. Santiagu, que é um dos mais premiados caricaturistas portugueses, foi retratado por Paulo Teixeira na edição número 36 de AMARANTE MAGAZINE (edição em papel, junho de 2019), num texto que, a propósito, (re) publicamos a seguir, de título ‘Santiagu: “Radiologista” da Sociedade‘.
Designer gráfico, caricaturista, professor e “radiologista da sociedade, carrasco capaz de resolver toda a espécie de cruzadexes no cavalete”. António Santos, aka Santiagu, é um mestre da linguagem universal da caricatura e do cartoon, premiado e reconhecido em eventos nacionais e internacionais. No Porto Cartoon deste ano, evento em que participa desde a primeira edição, em 1994, a sua interpretação de Bob Dylan e Fernão Magalhães foi reconhecida com um segundo lugar e uma menção honrosa, respetivamente.
De dia é António Santos, professor de Educação Visual do segundo e terceiro ciclos, mas, à noite, de lápis em punho, veste a capa do irreverente Santiagu, cartoonista e caricaturista. Natural de Arcozelo, Vila Nova de Gaia, estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto e reside em Gatão, Amarante. “Foi a minha esposa que me roubou para cá, quando nos casamos”, explica a Amarante Magazine (AM).
Na edição deste ano do Porto Cartoon, o artista gráfico for premiado com o segundo lugar no Prémio Especial Bob Dylan e teve ainda uma menção honrosa no Prémio Especial Fernão Magalhães. Os prémios associam-se a uma longa lista de distinções e galardões acumulados ao longo de 25 anos de carreira e mais de 300 participações em eventos nacionais e internacionais.
Em 2017, deslocou-se a Teerão a convite da 11ª edição da Biennal Internacional de Cartoon daquela cidade, para participar como membro do júri. Ali, diz, teve a oportunidade de apreciar “uma realidade diferente” de um país fechado ao exterior, mas onde existe uma crescente comunidade de cartoonistas e um circuito de festivais a si associados.
“Cartoon e caricatura são uma forma de linguagem universal e intemporal, capaz de ser interpretada em qualquer lado e em qualquer era. Facilitam o entendimento da realidade, muitas vezes descobrindo verdades sociais que alguns teimam em esconder”, afirma.
Caricaturar não é ridicularizar
Se o cartoon é um formato de âmbito mais alargado, orientado por um tema, uma caricatura é mais pessoal. “É, na essência, uma opinião gráfica sobre uma pessoa”, afirma. Por isso, explica, o trabalho de pesquisa a priori do desenho em si é de suma importância.
Por exemplo, para a sua interpretação de Bob Dylan, a investigação implicou ler o que se escreveu sobre o artista, analisar fotografias, vídeos das suas atuações e até ouvir os discos. “Tenta-se, sobretudo, apanhar ali qualquer coisa que nos ajude a perceber e interpretar a personagem”, adianta Santiagu.
Questionado sobre se recebe feedback dos “visados”, responde que isso raramente acontece, mas relembra a reação do arquiteto Siza Vieira quando visitou uma exposição, no Porto, em que ele próprio era o tema.
“Siza Vieira ficou encantado com a multiplicidade de visões sobre ele. Ia de retrato em retrato e comentava que lhe tinham apanhado esta e aquela feição ou que não fazia ideia que era assim”, explica. E acrescenta: “Uma caricatura não é, nem nunca deve ser, sinónimo de ridículo. É uma crítica forte, direta, por vezes mordaz à pessoa ou à sociedade, sim, mas sem nunca ridicularizar a inteligência do visado. Por isso, o trabalho de pesquisa e recolha de informação é absolutamente essencial.”
A exposição “A Eloquência do lápis” pode ser vista na Casa da Granja até 19 de agosto.
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