José Mendes: o Senhor MOMEL

José Mendes, 57 anos, é um dos mais dinâmicos e bem sucedidos empresário de Amarante. Iniciou-se nos negócios em 1980, como vendedor comissionista, tendo, cinco anos depois, em 1985, fundado a Momel, com sede em Amarante, hoje sociedade anónima (SA). Com um crescimento sustentado ao longo do tempo, que lhe permitiu atravessar as crises com que se cruzou no seu percurso sem grandes sobressaltos, a Momel é, atualmente, líder no seu setor no norte do país, com oito lojas em zonas e mercados estratégicos; tem um volume de negócios anual de 10 milhões de euros e emprega 52 colaboradores. Entre os quadros superiores da empresa estão Carla e Sara Mendes, licenciadas em Economia, com quem o pai prepara, a prazo, a sua sucessão. 

José Mendes fala da Momel com entusiasmo e percebe-se-lhe facilmente a atenção e cuidado que lhe dedica. Como disse a “Amarante Magazine” (AM), deita-se e acorda com a empresa e com a constante avaliação do seu funcionamento. Isto, apesar de reconhecer que tem um dia-a-dia calmo, sem toques frequentes do telemóvel, o que consegue fruto da filosofia de gestão que introduziu na Momel, “onde tudo está muito bem definido em termos de responsabilidades, com cada colaborador a saber, exatamente, o que fazer assim que inicia o seu dia de trabalho”.

José Mendes nasceu no Brasil, tendo vindo para Portugal com apenas sete anos, para morar com os avós, em Gondar, freguesia onde frequentou a escola primária e a catequese. Concluiu o Curso Geral dos Liceus, em Amarante, em 1976, matriculando-se, depois, no complementar, que, naquele ano, passou a funcionar à noite. Tendo ficado com muito tempo livre, decidiu procurar trabalho. Entretanto, os pais, com quem foi morar, haviam regressado do Brasil e tinham-se fixado na aldeia do Castelo, em Carvalho de Rei.

Da procura de trabalho resultou a oportunidade de colaborar, como comissionista, com uma empresa do Norte do país. Aceitou e poucos meses depois já estava a trabalhar por sua conta, comprando e vendendo. Tinha, então, 18 anos. “Não foi fácil, porque tubagens e acessórios para tubagens  vendiam-se no mercado através de empresas de grande dimensão e que tinham o monopólio das marcas. As pequenas lojas que existiam compravam diretamente. E vender a partir de Amarante para Trás-os-Montes e Beiras não era fácil, porque de Amarante as pessoas conheciam a indústria de urnas e a metalomecânica e ninguém ligava esta área a Amarante. A verdade é que consegui levar os comerciantes a acreditarem e, ainda hoje, alguns dos melhores clientes da Momel vêm desse tempo. Trabalhei com os pais e, agora, também temos os filhos como clientes”, disse a AM.

Nessa altura, José Mendes ainda não tinha armazém. Desenvolvia a atividade, como diz, “muito pendurado no compra e venda”. Vendia, recolhia as notas de encomenda, ia buscar o produto aos fornecedores, essencialmente a Braga, depois Porto e e S. João da Madeira e fazia as entregas. “Fui desenvolvendo o negócio, comecei a frequentar feiras e, a montante, a ganhar fornecedores. Não obstante, o mercado era muito fechado, havia monopólios que era difícil ultrapassar e a que os clientes estavam fidelizados. Muitos diziam-me ‘vá passando’, e eu assim fazia…“

Em 1985, com 25 anos, José Mendes casa e cria, com a esposa, a Momel. Maria do Carmo tinha ingressado, então, na Escola do Magistério Primário, que abandonou para se dedicar à empresa, instalada numa pequena loja, na parte de baixo da casa onde moravam. José Mendes continuou a “bater” o mercado, a esposa tinha a seu cargo o escritório, a retaguarda, enquanto dois colaboradores faziam o trabalho de armazém.

“Fizemos um crescimento sustentado, que eu saliento sempre, e que nos permitiu ter atravessado sem grandes sobressaltos, ao longo do tempo, fases menos boas da economia. O facto de termos tido, na empresa, um núcleo duro de base familiar foi muito importante, como foram importantes os recrutamentos que fomos fazendo, de quadros dedicados e competentes. Partilho da ideia de que os melhores ativos das empresas são as pessoas e, nessa área, a Momel esteve sempre muito bem servida”, refere o nosso entrevistado. 

O Negócio em Angola

A década de 1990 está associada a um período de crescimento e expansão e a Momel soube tirar partido disso, escolhendo criteriosamente os mercados. E foi assim que, por exemplo, abriu lojas em Felgueiras e Rebordosa, onde só estando presente poderia impôr-se. Vender para aí a partir de Amarante, não era a solução.

Foi também no final da década de 1990 que a Momel rumou a Angola. Nessa altura, apenas grandes empresas de construção civil, como a Mota e Cia. (à época assim designada) e a Soares da Costa, trabalhavam naquele país africano, onde, segundo José Mendes, “faltava tudo. O país estava ainda em guerra e, na primeira visita que lá fiz, percebi que havia ali um potencial enorme de negócio. Naquela altura, até redes de pesca vendemos para Angola, para além de produtos associados à construção civil, como tintas e outros e que não faziam parte do nosso ‘core’”.

De acordo com José Mendes, a Momel registou um grande crescimento no período entre 1995–2000 tendo, a partir deste último ano, conseguido antecipar alguns sinais de decréscimo económico que, todavia, não viriam a afetar a empresa, até pela estratégia que havia sido implementado. “O nosso crescimento havia, não só, sido sustentado, mas tivemos também sempre a preocupação de adquirir património, fosse diretamente, fosse por permutas com empresas de construção civil, a quem fornecíamos materiais”, refere José Mendes.

E esclarece que cedo definiu um princípio como estratégia, que consistia em que património não era negócio da Momel, que deveria fazer o que sabia fazer bem, que era vender os seus produtos. Foi criada, por isso, uma empresa imobiliária a quem competia gerir tudo o que a empresa comprava, fossem lojas, apartamentos ou armazéns. “Quando o mercado começou a correr menos bem, explica José Mendes, a Momel não registou quaisquer problemas: se teve, por exemplo, de fechar um ponto de venda fechou e entregou o espaço à imobiliária (Actinova), a quem competia a sua gestão, porventura até colocá-lo no mercado para arrendamento. A Momel usufrui do património enquanto precisa dele. Quando deixa de precisar, entrega-o à imobiliária”.

A Importância dos Recursos Humanos

Há duas situações que o nosso entrevistado considera fundamentais na gestão da Momel. Uma é saber salvaguardar a sua rentabilidade e outra é a qualidade, competência e dedicação dos colaboradores, sendo que a primeira depende largamente da segunda. “Por norma, diz, sou eu que seleciono os colaboradores e faz parte da cultura da empresa ir admitindo gente jovem, mesmo sem precisarmos. Em regra, temos aqui duas a três pessoas nessas condições com possibilidades de virem a integrar o grupo.

E, assim, vão rodando pelos vários setores, são avaliadas e é decidida, ou não, a sua contratação.  Há as que ficam e as que não singram. Como explica José Mendes, “nós somos uma empresa do setor comercial e os nossos colaboradores, desde o que expede os produtos, ao que atende ao balcão ou àquele que cobra os valores ao cliente, têm que ter um perfil marcadamente comercial”. 

Uma boa parte dos comerciais da empresa que hoje andam na rua passaram pelo armazém, fizeram balcão e, depois das aprendizagens adquiridas nos vários setores, ficaram aptos a irem para o mercado. Um comercial, explica José Mendes, pode levar nove, dez “negas” por dia e tem que estar preparado para isso. Tem que ser moralmente forte e encarar os nãos como um estímulo para, no dia seguinte, voltar para o mercado.

À qualidade do “grupo de trabalho”, como lhe chama, o CEO da Momel junta também “a qualidade e seriedade dos fornecedores, que são eficientes e cumprem prazos. Repare-se que nós não fabricamos, não produzimos nada, não transformamos matéria-prima. Nós compramos e vendemos produto acabado e, portanto, os nossos parceiros são fundamentais neste processo”.

O dia-a-dia de José Mendes

Liderando uma organização com um quadro de 52 colaboradores, a que acrescem oito externos que trabalham em exclusivo para a Momel, que fatura por ano 10 milhões de euros, como é o dia-a-dia de José Mendes?

“Posso dizer que tenho um dia-a-dia calmo, embora me deite e acorde com a empresa e com a constante avaliação do seu funcionamento. O futuro é sempre incerto, as organizações estão proibidas de errar e, por isso, as suas estratégias devem ser definidas com muita ponderação, sem precipitações, de forma a não colocarmos em causa a sua estabilidade”.

“Chego à Momel, diariamente, às sete da manhã, ligo o computador e tenho acesso imediato a toda a informação, quer daqui, quer de Angola. Entro nos bancos, vejo mapas, relatórios e, às oito horas, vou tomar o peque no-almoço.  Às 8:30 estou aqui novamente e dou início ao meu dia de trabalho. Por vezes, reúno com um ou outro departamento da empresa, com comerciais, vou visitar  as nossas lojas e faço toda a gestão financeira. Hoje, as novas tecnologias facilitam-nos imenso o trabalho e permitem-nos o acesso rápido à informação, que nos chega resumida, possibilitando-nos ficar com uma panorâmica do negócio em termos de vendas, de margens, de contas correntes, etc”, explica.

O segredo para o “dia-a-dia calmo” de José Mendes (ao longo de uma manhã que passamos no seu gabinete, o telemóvel tocou apenas uma vez), parece estar, fundamentalmente, na organização rigorosa do funcionamento da empresa, onde tudo está definido ao pormenor. Como nos explica, uma coisa é o trabalho numa empresa industrial, “onde os trabalhadores estão à volta de uma máquina e quase que é ela que os faz trabalhar”; outra é o que se passa numa empresa do setor comercial, “como a nossa, onde, logo pela manhã, chegam mais de 50 colaboradores com níveis diferentes de responsabilidade e que, fruto de um planeamento do trabalho, têm que saber exatamente que tarefas terão que executar”.

E exemplifica: “A Momel tem, no seu interior, em termos estruturais, 23 agentes, que podemos equiparar a lojas virtuais, às quais estão adstritos grupos de quadros da Momel que trabalham as nossas áreas de negócio e fazem o acompanhamento após-venda. Por exemplo: a Momel tem um gabinete que trabalha somente com obras públicas, designadamente com Câmaras Municipais; outro grupo que trabalha apenas com aquecimento e climatização, e por aí adiante. Tudo está definido e a mim compete-me reunir com os grupos constituídos, avaliar, corrigir ou (re)definir estratégias e supervisionar toda a sua atividade”.

O segredo para o sucesso da Momel, para além do seu modelo de gestão e do conhecimento profundo da sua área de atuação, parece estar também na  diversificação do negócio que, hoje, se estende por várias áreas, que vão da tubaria aos acessórios, aos sanitários e climatizarão, ao isolamento e a materiais para a construção civil. E ao facto de haver instituída na empresa a preocupação de ocupar a vanguarda na oferta dos melhores e mais recentes produtos ou soluções, de algum modo antecipando as tendências do mercado e as necessidades de consumo dos clientes.

Como explica José Mendes, “para sermos competitivos no mercado, temos muita necessidade de estar atualizados. Por isso, no início de cada ano elaboramos um mapa de feiras onde queremos estar presentes. Atualmente, não é só importante conhecermos as tendências na área dos sanitários, mas também na climatização, no isolamento, na ventilação. Depois, numa outra vertente, hoje procuram-se os equipamentos menos poluentes, com consumos mais baixos, mais silenciosos e o mercado está em permanente mudança, que temos de acompanhar”.

“As feiras ajudam-nos a antecipar o futuro. Há produtos que vemos em certames, sobretudo do centro da Europa, e que só quatro ou cinco anos depois chegam a Portugal pelo que há toda uma preparação a fazer. Por ano, vamos a cinco, seis feiras, que são muito importantes para a orientação da nossa atividade”, conclui.

A Quinta da Levada, o vinho e o turismo

Aquilo que começou por ser um impulso emocional, resultante das suas raízes, da sua ligação à terra e à agricultura, poderá vir a transformar-se, num futuro próximo, numa (outra) importante área de negócio para José Mendes: o Turismo.  “É uma área que nos interessa, à qual estamos atentos e pensamos, mesmo, afetar alguns dos nossos ativos imobiliários”.

Para já, abriu a Quinta da Levada, em Aboadela, ao setor, concessionando  a sua exploração, enquanto equipamento turístico, a um operador alemão. E, em breve, poderá alargar a sua oferta turística, numa modalidade diferente, o que depende de negociações que tem em curso e que espera concretizar positivamente.

José Mendes começou a transformar a Quinta da Levada – com uma localização privilegiada, junto à aldeia histórica de Rua, em Aboadela – vai para 20 anos. Construíu quatro hectares de vinha, movido, como diz, por uma questão sentimental e pela sua ligação à terra, sem que estivesse motivado pelo lucro ou pela rentabilidade dos investimentos que ali efetuou. A AM, disse que, fundamentalmente, lhe dá prazer ver os seus vinhos “apreciados, reconhecidos no mercado, premiados e servidos nos bons restaurantes”. E passou muito tempo até que o vinho “Quinta da Levada” atingisse a maturidade e a notoriedade que hoje tem.

Com clientes fiéis no mercado nacional e também em outros países da Europa (Luxemburgo, Bélgica e Suíça), as 60 mil garrafas do “Quinta da Levada” produzidas anualmente já vão escasseando para as encomendas. José Mendes explica a procura por se tratar de um vinho com características próprias, tendo como casta base o azal.

“Há uns anos, esta casta não era muito valorizada, por dela resultarem vinhos gaseificados e de baixo grau. Porém, com as novas modalidades de plantação, em cordão simples, com as vides a andarem mais junto ao solo, deixando as uvas de estarem escondidas nas árvores e a beneficiarem de uma melhor exposição solar, deram outra personalidade ao azal. Daí resultam vinhos menos ácidos, mais aromáticos, mais frescos e com maior teor alcoólico. O ‘Quinta da Levada’ é um vinho que se enquadra bem com a nossa gastronomia, designadamente com os pratos de peixe. De resto, o litoral português é um dos nossos principais mercados”, explica José Mendes.

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