Natural de Salvador do Monte, em Amarante, Luís Miguel Ribeiro é, atualmente, presidente do conselho de administração da Associação Empresarial de Portugal (AEP). Empreendedor multifacetado, concilia projetos e funções, aos quais alia visão estratégica e a vontade de contribuir para o desenvolvimento empresarial da sua região e do país. “Gosto de desafios, de fazer coisas diferentes, de aprender e de partilhar”, disse a AMARANTE MAGAZINE.
Em maio de 2023, Luís Miguel Ribeiro, 53 anos, iniciou um segundo mandato à frente da maior associação empresarial do país, um importante passo dado num percurso associativo que começou, nos anos de 1980, em Salvador do Monte e que passaria pela presidência da Associação Empresaral de Amarante (AEA), entre 2008 e 2016, e do Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa (CETS).
O nosso entrevistado concorda que sempre teve “uma veia empreendedora e o gosto pelo associativismo” frisando que cresceu num ambiente familiar ligado aos negócios: o pai foi um dos sócios da conceituada loja de artigos de vestuário Novélia, em Amarante, e um dos seus tios tinha um negócio na área do ferro.
Luís Miguel Ribeiro lembra que vários dos projetos lançados durante a sua presidência da AEA ainda se mantêm hoje, como é o caso do ciclo “Encontros com os Empresários”, uma iniciativaque veio “dinamizar e potenciar muitos negócios, em Amarante, nomeadamente virados para a exportação”. Salienta ainda o projeto “Jovens Empreendedores – Construir o Futuro” para estimular alunos de escolas da região a desenvolverem a sua capacidade de inovação e empreendedorismo, bem como a “Jump Box”, uma parceria com o IET (Instituto Empresarial do Tâmega) na área do emprego jovem.
Destaca, ainda, a “Gala do Empresário”, evento recheado de “glamour” e momentos de partilha, que visava distinguir empresários do concelho em várias vertentes, reconhecendo o seu êxito e o seu envolvimento com a sociedade e a comunidade.
“Foi, de facto, uma altura interessante, com muita atividade. Aproveitámos fundos comunitários, lançamos uma série de programas e realizámos muita formação profissional”, recorda.
Aquela experiência, que afirma ter-lhe, também, permitido a presidência do Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa, reflete-se, hoje, no que faz na AEP, “a uma escala e desafios diferentes”.
“Essa vivência, que ficou, permitiu-me concluir que para se fazer o que quer que seja, temos que ser inventivos, ter espírito empreendedor e saber aproveitar oportunidades. É possível criar projetos, aplicando uma visão crítica e construtiva, identificando desafios e dificuldades e construindo soluções”, explica. E continua: “É algo que gosto de fazer com muita regularidade, mas não o tenho conseguido tanto, ultimamente, porque a gestão da instituição [AEP] cria-me outras obrigações e desafios que não me deixam muito espaço para pensar e criar. Contudo, espero que no futuro possa voltar a criar e a inovar”.
Desafios
O convite para integrar, como vice-presidente, o Conselho Geral da AEP surgiu em 2014, feito por Paulo Nunes de Almeida, quando ainda era presidente da AEA, do CETS e Diretor-Geral Executivo do IET.
“Confesso que, na altura, a AEP era uma coisa distante, não fazia parte dos meus planos. Mas foi-me lançado o repto e eu tenho esta forma de estar na vida: quando me apresentam um desafio, eu digo que sim”, explica.
Questionado sobre se as novas responsabilidades têm um impacto negativo na sua vida privada, explica que, não obstante o cargo de presidente da maior associação empresarial do país ter inerentes vastas obrigações e deveres, faz questão de encontrar tempo para si e para a família e em conseguir “equilíbrio”, nomeadamente através do exercício físico.
É sobretudo na prática do golfe que o atual presidente do conselho de administração da AEP encontra “momentos de pausa”, fundamentais, disse, para o seu bem-estar.
“São perto de quatro horas por cada partida, durante as quais estamos concentrados no jogo, nas condicionantes, nos desafios de cada buraco e pancada. É um momento em que esquecemos tudo o resto, e eu acho isso fundamental. Acredito que para se estar bem mentalmente, também temos que estar bem fisicamente”, realça.
“A margem de erro que temos na gestão de uma entidade como a AEP é praticamente nula. Logo, estamos obrigados a estar bem física e emocionalmente. Aliás, diria que, hoje em dia, a inteligência emocial é um fator absolutamente fundamental para quem lidera qualquer estrutura [como a AEP]. O apoio da familia é crucial, nomeadamente o da minha mulher e das minhas filhas. O golfe, acompanhado de exercício físico diário, que faço em casa no meu pequeno ginásio, dá-me essa capacidade”, refere.

Oportunidades adiadas
Luís Miguel Ribeiro não esconde a afetividade pela sua terra natal, que considera ser “aquela raiz que temos que ter para crescer. Como qualquer árvore, para aguentar as intempéries, as raízes têm que ser sólidas”, afirma.
Mas, olhando para o concelho em si, reconhece que Amarante tem grandes desafios para se afirmar no panorama económico nacional e regional, face à concorrência de outros territórios mais industrializados e com melhores infraestruturas.
“Amarante tem grandes desafios, porque há concelhos [da região] que têm hoje uma dinâmica industrial e atratividade maiores. Isto porque criaram parques empresariais e implementaram condições de acessibilidade muito mais atrativas, entre outros fatores. Acresce a proximidade com que estão dos portos marítimos e dos aeroportos, que torna o desafio maior ainda”, explica.
A captação de investimento tem, hoje, de ser estrategicamente promovida, “pois um empresário tanto se instala em Amarante, como a algumas dezenas de quilómetros ao lado. Fá-lo onde as condições forem mais favoráveis e existirem recursos humanos”, frisa.
Para o líder da AEP, os poderes públicos têm a obrigação de fazer um trabalho prévio na criação de condições para que as empresas se constituam e se instalem em Amarante. “Esse foi sempre o nosso problema. Existiu falta de estratégia e de uma opção clara de atração de investimento”, reconhece.
Exemplifica, recordando que, na metalomecânica, um setor industrial com longa tradição no concelho, algumas empresas “de referência” podiam ter continuado a crescer, mas acabaram por perder alguma da relevância que haviam conseguido no passado.
“Amarante deve continuar a reforçar a sua afirmação como grande referência no setor da metalomecânica na suas diversas vertentes. Temos tradição, temos marca e temos empresários mais experientes e também mais jovens que já demonstraram ter essa capacidade, disse.
Acrescenta que há áreas “que têm mostrado vitalidade e inovação, nomeadamente na construção civil, na produção de vinhos e outras atividades, setores onde se têm consolidado alguns projetos interessantes, mas que devem continuar a ganhar escala e a a afirmarem-se para serem competitivos”. Aponta, ainda, para outros fatores “críticos” que têm afetado o desenvolvimento económico do concelho, nomeadamente a falta de recursos humanos qualificados e a oportunidade perdida de em Amarante, se ter instalado um ou mais estabelecimentos de ensino superior.
Luís Miguel Ribeiro não tem dúvidas de que Amarante perdeu uma oportunidade de acolher um estabelecimento de ensino superior há cerca de década e meia, quando era presidente da Associação Empresarial de Amarante e deputado à Assembleia Municipal.
“Era possível termos feito mais para atrair o ensino superior para Amarante. Naquela altura, houve instituições que demonstraram a sua disponibilidade para se instalarem no concelho, mas outros municípios anteciparam-se, revela.
No entanto, o presidente da AEP questiona se, atualmente, ainda faz sentido abordar o tema, tendo em conta que concelhos vizinhos já oferecem soluções, para além da oferta existente na cidade do Porto, Vila Real, Braga e Guimarães. “O ensino superior poderia ter trazido mais-valias para o concelho, pessoas qualificadas, inovação e maior dinamismo”, conclui.
O alojamento e preço da habitação é outro fator que pesa no processo de tomada de decisão nas empresas, recorda ainda o presidente da AEP. E, refere, “em Amarante, a habitação é escassa e cara” alerta.
“Os Planos Diretores Municipais deveriam ter sido pensados de uma outra forma, para serem criadas condições que propiciassem a construção de mais habitação”, explica, salientando haver projetos que estão há mais de uma década por concretizar e cujo desenho não está adequado aos novos desafios nem aos atuais custos de construção.

Burocracia excessiva
O presidente da AEP vai mais longe nas suas críticas, considerando que o Estado e setor público “são os piores inimigos das empresas, pois dificultam a capacidade de adaptação, inovação e de resposta aos novos desafios que enfrentam, diariamente”.
“Continuamos a insistir nos mesmos erros, na burocracia excessiva, nos atrasos… Estamos sujeitos a ter que devolver dinheiro ou a investir onde não devíamos porque, a certa altura, as empresas têm que fazer o investimento ou perdem aquele negócio. Fazem o investimento e não utilizaram (o apoio) que estava disponível”, lamenta, acrescentando que, por outro lado, “a carga fiscal brutal” tira a competitividade às empresas portuguesas. “Acho que é uma das questões que tem que mudar, e rapidamente”, defende. Apesar de tudo, considera que as empresas portuguesas têm potencial para se afirmarem no panorama internacional, mas alerta para os riscos de uma concorrência cada vez mais feroz.
“Têm qualidade, têm capacidade de inovação e de resposta. Mas também têm concorrentes cada vez mais fortes e mais agressivos. É preciso estarmos atentos e preparados para isso. Em Amarante temos também bons exemplos de empresas que, apesar destas dificuldades, têm-se afirmado a nível nacional e internacional”.
Política, por que não?
Luís Miguel Ribeiro não descarta a possibilidade de participar na vida política, seja a nível nacional ou local, mas diz que também não faz disso um objetivo, sublinhando que esta é uma situação de “nunca digas nunca”. Contudo, frisa que “depende das condições, do momento e do contexto”.
“Se as condições estiverem reunidas, se for num momento da minha vida em que eu entenda que posso dar esse contributo, é uma possibilidade. Não digo que não porque acho que nestas coisas temos que ser sinceros, sobretudo connosco próprios”, afirma, revelando que já teve um convite para dirigir um secretaria de Estado, mas que recusou, porque na altura estava a iniciar o seu percurso na AEP.
Salientando que está disponível para ser “útil a Amarante”, adianta que o seu regresso à vida política local, a acontecer, dependerá de “uma análise que terá que ser feita no seu devido tempo”.
A esse propósito, recorda que, em 2012, publicou uma análise crítica da situação do concelho, defendendo, entre outras noções, que o tecido empresarial tem um estatuto importante na recuperação da sua centralidade.
Entre as ideias sugeridas no livro “Acordar a Princesa do Tâmega” encontravam-se a requalificação dos principais centros urbanos, a valorização do património natural e edificado, a criação de condições para o desenvolvimento económico, nomeadamente a atração de investimento e a edificação de parques empresariais. Vários dos projetos propostos naquela publicação estão, hoje, em curso ou já concluídos.
“Foi um contributo cívico para aquele momento da vida do concelho. Noutra altura, poderei dar outro. Logo se verá, o tempo, o momento e o contexto assim o ditarão. Não é um objetivo, mas a Amarante nunca direi que não”, conclui.
Um percurso intenso
Luís Miguel Magalhães Ribeiro é natural de Salvador do Monte, em Amarante, onde nasceu a 7 de novembro de 1970. É casado com Amélia Freitas e pai de duas filhas, Ana e Beatriz. Desde jovem, esteve sempre presente na vida associativa do concelho, nomeadamente como vice-presidente, aos 18 anos, do Sport Clube Salvadorense.
“Jogava futebol no clube, mas lembro-me que tive que esperar até fazer 18 anos para poder entrar como dirigente. Organizamos imensos eventos, havia um espírito diferente de associativismo. As pessoas juntavam-se para construir tudo, mesmo não percebendo de construção civil”, recorda.
Passou ainda pelo Amarante Futebol Clube, como presidente da Mesa da Assembleia Geral, pela Associação Maranus e pelo Bem Estar – IPSS, entre outros.
A mãe, natural de Salvador do Monte, era costureira. Seu pai, natural de Travanca, começou a trabalhar aos 13 anos numa mercearia em Vila Meã. Mais tarde, já em Amarante, trabalhou na área do pronto a vestir, primeiro na antiga Casa Primavera e mais tarde, como sócio da casa da pronto-a-vestir Novélia.
Também deixou a sua marca na vida política local, como membro da Assembleia de Freguesia de Gondar e como deputado à Assembleia Municipal de Amarante, pelo Partido Social Democrata (PSD/PPD).
A sua formação académica inclui um bacharelato em Contabilidade e Administração, licenciatura em Gestão Financeira e Fiscal com mestrado em Gestão e Negócios. Também fez carreira como docente, lecionando Contabilidade, Economia e Gestão. Em Amarante, foi professor, coordenador de curso e vice-presidente da direção da Escola Profissional António Lago Cerqueira.
Ocupou o cargo de presidente da Associação Empresarial de Amarante entre 2008 e 2016, e foi fundador e presidente do Conselho Empresarial do Tâmega (CETS), entre 2012 e 2016. Este projeto nasceu para compartilhar recursos, conhecimentos e estratégias “num espírito de partilha, beneficiando as associações e os municípios de menor dimensão da região do Tâmega e Sousa”, salienta.
Enquanto presidente da AEA, foi, também, co-responsável, juntamente com a Câmara de Amarante e a gestora de parques empresariais “Parques EDT”, pela criação do Instituto Empresarial do Tâmega (IET), nas antigas instalações das fábricas da Tabopan.
Em 2014, foi convidado para integrar a Associação Empresarial de Portugal como vice-presidente dos conselhos de administração e geral. Em 2018, ascendeu à presidência do conselho de administração, desempenhando, atualmente, o seu segundo mandato.
É, ainda, vice-presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), presidente do conselho de Administração da Fundação AEP, presidente do Conselho de Administração da EXPONOR, administrador não-executivo e presidente da comissão especial de negócios da Norgarante, uma sociedade de garantia mútua, e vogal na Comissão Permanente do Conselho Regional da CCDR-Norte. É, ainda, presidente da Mesa da Assembleia Geral do Amarante Golfe Clube.
Nota: Luís Miguel Ribeiro foi capa da edição em papel nº 38 de AMARANTE MAGAZINE.