O voluntariado como opção de vida

Miguel Pinto, atual responsável pela gestão da Casa da Juventude de Amarante

A Casa da Juventude de Amarante foi responsável, nos últimos nove anos, pela movimentação de mais de 3 mil e 500 jovens no âmbito de uma série de projetos de mobilidade e voluntariado internacionais. Destes, mais de 2 mil e 500 são estrangeiros que passaram pelo concelho e estiveram alojados na CJ pelo menos uma semana. No sentido inverso, mais de um milhar de portugueses, na sua maioria oriundos de Amarante, viajaram para fora do país.

“São números extraordinários e que nos orgulhamos imenso”, explica Miguel Pinto, fundador e responsável da Casa da Juventude de Amarante (CJA), salientando que a instituição foi responsável, até à data, por 91 projetos financiados sobretudo pela União Europeia, no valor acumulado de cerca de 2,2 milhões de € (de 2009 até setembro 2018).

Na comunidade local, da estranheza inicial deu-se lugar ao reconhecimento da presença destes jovens que apoiam as instituições parceiras, nomeadamente várias entidades da Rede Social de Amarante, produtores biológicos da região e, mais recentemente, o Canil municipal e o InvestAmarante da CMA.

Para além deste apoio institucional, os voluntários contribuem para a agenda cultural da CJA, colaboram na implementação da campanha “Amarante sustentável”, promovem o conceito de Comércio Justo nas escolas do concelho e mantêm a horta da CJA e a feira bio, justa e local.

Por seu lado, os voluntários portugueses participam de forma gratuita em projetos de mobilidade e participação internacional, nomeadamente em voluntariado de longa duração. Atualmente, há 17 jovens amarantinos estão a fazer voluntariado, espalhados um pouco por todo o mundo, de Cabo Verde à Grécia, do Benim à Hungria, ou até mesmo do Gana à nossa vizinha Espanha.

Girassol: único restaurante vegetariano de Amarante

O restaurante vegetariano da CJA é o único do seu género na cidade e um dos “alicerces do projeto” da instituição, refere ainda o seu responsável. Por um lado, explica, dá seguimento a outras atividades que a equipa de gestão tem a montante, nomeadamente junto do movimento de Comércio Justo, produtores biológicos do concelho e da horta da CJA. Por outro, há uma componente educativa que contribui para a eliminação de preconceitos e aponta para um estilo de vida mais saudável.

“Os jovens que nos visitam ficam mais conscientes da importância de uma alimentação saudável e da necessidade de serem consumidores mais críticos e responsáveis. Como em tudo que é novo primeiro estranha-se, mas depois, quem sabe, entranha-se…”, admite Miguel Pinto. E acrescenta:

“Foi difícil, praticamente não tínhamos clientes nos primeiros anos, mas a nossa resiliência produziu os efeitos que sempre achei serem possíveis de alcançar. Hoje, a CJA é cada vez mais procurada por adeptos duma alimentação mais saudável, vegetariana e com produtos de origem justa, biológica e local. Em 2017 servimos quase 30000 refeições, valor que mostra bem o impacto que o restaurante já tem no projeto”, conclui.

Miguel Pinto, o rosto do Comércio Justo

Miguel é o responsável pela gestão e coordenação da CJ Amarante, bem como coordenador dos projetos locais e internacionais. Para além desses cargos, acumula as funções de vice-presidente da direção no Aventura Marão Clube (associação com quem o Município de Amarante estabeleceu um contrato de comodato para dinamização da CJ Amarante, entidade que, recentemente, recebeu o estatuto de utilidade pública e de diretor executivo da Equação, Cooperativa de Comércio Justo, Crl.

Conta que, depois de uma experiência de voluntariado em Itália, abandonou um emprego seguro na sua área de formação (engenharia florestal) para abraçar a causa do Comércio Justo. Aqueles seis meses, explica, transformaram-se numa experiência existencial desafiadora que o tornaram numa pessoa “mais sensível às desigualdades que existem e que afetam tantos seres humanos, apenas porque nasceram no local errado”.

“Como tantas pessoas deste lado da história, vivia distante desta realidade e com a ilusão do progresso e pretenso bem-estar das sociedades ditas desenvolvidas. Nada mais falso e efémero. Mudar de opinião sobre assuntos e temas, alguns deles fraturantes, foi para mim um desafio e, sobretudo, um processo que decorreu dentro de mim ao longo de muitos anos”, explica à Amarante Magazine. E conclui:

“A CJ ajudou a transformar Amarante numa cidade mais cosmopolita e aberta ao mundo. Teve ainda o condão de dar a conhecer algumas das instituições do concelho que fazem um trabalho muito meritório, mas que passavam, de certa forma, ao lado da comunidade local. A presença destes voluntários ajuda a agitar as nossas rotinas e a refletir sobre temas muitas vezes fora da agenda duma comunidade pequena como a nossa. Finalmente, devo sublinhar que estes voluntários ajudam a valorizar o papel dos jovens na construção de um mundo melhor e na participação nos processos de decisão que envolvem a comunidade. O voluntariado é um exercício de cidadania e democracia que pode potenciar os valores fundamentais que devem reger a nossa atuação enquanto elementos cativos duma comunidade.”

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