Quinze de outubro de dois mil e vinte, 10 horas na EB2,3 de Amarante, regista o meu diário de bordo, alimentado a bateria.
Assim, desta forma tão sucinta, o que está escrito parece uma banalidade. Como sabemos, há sempre um mas, há sempre uma vírgula em tudo que se diz.
No dia quinze de outubro estive na EB2,3 de Amarante no papel de presidente de júri da terceira edição do prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira, promovido pela União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão, presidida pelo professor Joaquim Pinheiro.
No amplo espaço estavam alunos de turmas do quarto, sexto e nono anos, professores, responsáveis dos agrupamentos de escolas do concelho, assim como do Externato de Vila Meã e do Colégio de S. Gonçalo, diversas individualidades, incluindo o presidente do município José Luís Gaspar Jorge.
Também compareceu à cerimónia a vencedora da terceira edição do concurso Soni Esteves, nome literário de Maria da Conceição Esteves Silva, professora do ensino básico e secundário, natural de Braga, assim como a ilustradora da obra, a arquiteta amarantina Joana Torgal.
Soni Esteves ganhou com um belo conto com o título “ A que sabe o mar” e que começa assim:
“Amed vivia numa pequena aldeia, guardada por uma antiga muralha, perto do sopé de uma montanha saibrosa e árida. Diziam os mais velhos que a muralha servira em tempos para proteção de invasores e ladrões, mas atualmente impedia tão somente o avanço das areias.”
Esta é a segunda vez consecutiva que Soni Esteves é premiada. Em 2020, na segunda edição do prémio Ilídio Sardoeira, recebeu igual prémio com o conto a “A casa da Avó ”, entretanto publicado em livro, uma edição de dois mil exemplares que a junta de freguesia distribuiu gratuitamente pelas bibliotecas e pelos alunos do concelho de Amarante.
Joaquim Pinheiro e a sua equipa decidiram, desde a criação do prémio, que os contos vencedores de cada edição seriam distribuídos gratuitamente. Assim aconteceu com os livros da primeira edição, em 2019, “ Os dias pequenos” de Anabela Borges e “Mudança de Estação” de Maria Freitas, aluna do Externato de Vila Meã. O livro da terceira edição do prémio Ilídio Sardoeira, de Soni Esteves, também teve distribuição gratuita.
Já fiz muitas coisas na vida, mas esta de participar no Prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira, foi um trabalho que me deu imenso prazer, apesar da responsabilidade. O prémio – não conheço outro igual em todo o país promovido por uma junta de freguesia – tem dois escalões, um para autores maiores de 18 anos, aberto a todos os que quiserem participar não importando o local do mundo de onde é enviado, nem o limite de idade, nada, apenas que esteja escrito em língua portuguesa. O outro escalão é dirigido aos estudantes que frequentam o ensino secundário em escolas do Município de Amarante, públicas ou privadas e tenham entre quinze e dezoito anos.
Os concursos literários, já o afirmei, são uma boa estratégia para a promoção da leitura e da escrita. A leitura instiga o conhecimento. E só com o conhecimento é possível refletir, comparar, escolher e atuar.
Nestas três edições recebemos imensos trabalhos, alguns com qualidade e o júri, constituído pelo autor desta prosa, José António Gomes, Professores da ESE do Porto e Sara Reis, Professora na Universidade do Minho, decidiu sempre por unanimidade.
Este foi a último ato oficial do professor Joaquim Pinheiro como presidente da União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Cepelos, Madalena e Gatão.
Nas breves palavras que proferi, dedicadas aos jovens que ali estavam com os rostos escondidos nas máscaras, disse-lhes que tudo o comprávamos ou recebíamos para comer, desaparecia rapidamente. O livro que iam receber só era realmente deles se o lessem. Os livros não têm dono, mesmo que os compremos e os guardemos em nossas casas. O livro que receberam ia certamente durar muito mais tempo do que todos que estavam naquela sala. Os livros esperam pacientemente por um leitor, mesmo que demore milhares de anos a aparecer.
Os livros são objetos estranhos, existem para iluminar.
Quando regressei a casa abri a agenda do smarthone, e acrescentei:
Quinze de outubro, ano de dois mil e vinte e um, 10 horas na EB2,3 de Amarante – missão cumprida.
(António Mota é escritor, com uma carreia de mais de 40 anos e para lá de uma centena de títulos publicados. Presidiu ao Júri do Prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira, nas suas três edições).