Amarante: Festival do Verde regressa a Sanche a 3 e 4 de maio

Verde/bazulaque de Sanche (Foto AM)

O Festival do Verde de Sanche é uma celebração vibrante que transcende a mera gastronomia, para abraçar a essência da comunidade e da tradição. Este evento anual não é apenas um destaque no calendário culinário local. É, também, um convite caloroso a mergulhar na rica tapeçaria cultural das freguesias da Serra do Marão.

Organizado pela União de Freguesias de Aboadela, Sanche e Várzea e pelo Centro Cultural e Recreativo de Sanche (CCRS), o certame é um tributo ao “verde” ou “bazulaque” – um prato rústico feito com miúdos de anho que captura o paladar e o coração dos visitantes.

Mas o Festival do Verde é mais do que um prato, é uma janela para a alma da região. Cada ano, um grupo de habitantes locais dedica-se voluntariamente a preparar uma variedade de pratos típicos que vão desde o cabrito no forno até à suculenta vitela, todos cozinhados com amor e uma pitada de história.

Para além de ser uma montra para os produtos e gastronomia locais, o festival recupera, assim, o espírito de comunidade e entreajuda que, num passado não tão longínquo, pautava as relações das comunidades serranas.

“Desabituamo-nos um pouco daquele passado onde os habitantes se ajudavam reciprocamente, trabalhavam e conviviam entre eles, sem se pagar a ninguém. É importante recuperar estas tradições e este sentimento de comunidade”, explica Fernando Costa, presidente do CCR Sanche, entidade que assumiu, nos últimos três anos, um papel mais preponderante na realização do certame.

À medida que foi progredindo ao longo de 13 edições, o festival adaptou-se às necessidades do crescente número de forasteiros que ali rumam à procura dos sabores genuínos da serra do Marão, com a introdução de mais ofertas na gastronomia regional.

O evento acolhe, também, a realização de várias atividades paralelas, nomeadamente uma caminhada pelas paisagens locais. O programa cultural é igualmente uma montra das tradições da serra do Marão, onde se destacam a viola amarantina e a rabeca chuleira, recentemente recuperada pelo artesão Manuel Miranda, natural de Aboadela.

Para o presidente da União de Freguesias, Henrique Monteiro, o Festival do Verde de Sanche é um exemplo para a realização de outros eventos do género, dado que tem crescido ao longo dos anos, mas mantendo sempre o espírito da comunidade.

“Começou como um evento pequeno e agora chegou a uma dimensão que já ultrapassa o concelho. E o importante é que as pessoas e a sociedade se envolvam”, afirma.

Maria Serafim, cozinhando o Verde (Foto de Paulo Teixeira).

Verde de Sanche: uma receita única na região

Segundo a tradição oral, o prato do verde, ou bazulaque, teve origem no coração do sistema de exploração agrícola que durante séculos vigorou na região.

Conta a história que depois da matança do anho, os melhores “cortes” ficavam para o proprietário do minifúndio e a sua família, carne que seria reservado para a confeção do tradicional cabrito assado. As entranhas, ou “miúdos”, eram distribuídos pelos menos afortunados e pelos seus trabalhadores, recorda Maria Serafim, uma das cozinheiras voluntárias do festival.

“Pelo menos era o que nos contavam as avós, que o verde começou com os restos do anho que eram entregues aos mais pobres”, acrescenta.

A receita, passada de geração em geração, inclui os miúdos e sangue de anho, fumeiro, nomeadamente salpicão e chouriça de sangue, pão de Padronelo, pedaços de frango, temperos com louro e “um raminho de hortelã”, explica a cozinheira.

O sangue, preparado à parte do refogado inicial que depois incluirá as carnes e fumeiro, é cozido, ralado e depois misturado na panela principal, adicionando água e pão de Padronelo gradualmente “até chegar àquela consistência de ensopado, a que chamamos o verde bazulaque”.

Para além do circuito dos festivais gastronómicos locais, esta iguaria vai, regularmente entrando na oferta gastronómica comercial. O seu cariz tradicional continua vivo, sendo um dos pratos de eleição em muitos eventos celebrados em família, na região, nomeadamente durante a época da Páscoa.

“É raro ser servido publicamente, para além deste evento, mas em família, ainda se serve, principalmente no domingo de Páscoa. Em Sanche muitas pessoas confecionam este prato”, conclui Maria Serafim.

CONTINUAR A LER

Leave a Comment

You may like