Amarante: Gondar quer fixar população

Gondar, centro da freguesia (Foto de Paulo A. Teixeira)

Entre 2011 e 2021, a freguesia de Gondar perdeu 8,9 por cento da sua população, a que correspondem 150 cidadãos. Acreditando-se que o retorno dos que partiram dificilmente acontecerá, a estratégia da Junta de Freguesia, presidida por Hugo Vaz, tem passado por inovar na criação de serviços de proximidade que obstem a mais saídas e levem à fixação dos residentes.

Gondar é uma das mais antigas e importantes freguesia de Amarante, estrategicamente localizada na margem esquerda do rio Tâmega, entre as serras do Marão e da Aboboreira e detentora de muitas tradições, nomeadamente da produção de loiça em barro negro.

Tal como em todo o território, e em particular nas zonas de montanha do concelho, esta freguesia tem registado um decréscimo populacional, a partir da década de 80 do século anterior, e que se tem acentuado, mais recentemente.

No último censos, realizado em 2021, Gondar registava 1536 habitantes, contra os 1686 de 2011, perdendo, por isso, 150 habitantes, o que significa um decréscimo de 8,9 por cento. A população ficou mais velha, de acordo com os dados oficiais, que apontam para uma diminuição das camadas etárias mais jovens e um aumento dos mais idosos, nomeadamente em idade de reforma.

Perante esta realidade, a Junta de Freguesia de Gondar tem vindo a apostar na modernização e na inovação dos serviços públicos, com o objetivo de “pelo menos, segurar quem cá ficou”, explica a AMARANTE MAGAZINE o atual presidente de executivo, Hugo Vaz.

Hugo Vaz, Presidente da JF de Gondar (Foto de Paulo A. Teixeira).

Espaço Cidadão: “um serviço que facilita a vida aos fregueses e combate a desertificação

O Espaço Cidadão, inaugurado em 2021, oferece mais de 70 serviços públicos aos residentes de Gondar e das freguesias circundantes. Os fregueses podem aqui renovar, por exemplo, a carta de condução, bem como o cartão de cidadão e tratar de diversos assuntos relacionados com a Autoridade Tributária e Segurança Social.

O espaço também funciona como um posto dos CTT e ponto de entrega e recolha de encomendas e correspondência de outras transportadoras.

Segundo o presidente de executivo, o serviço tem tido boa adesão e beneficia aqueles com menos possibilidades de se deslocarem à sede do concelho, mas também atrai utentes de locais mais distantes.

“No início, não havia muita procura, mas com o desenrolar do tempo, nota-se que houve um aumento na procura por estes serviços. Inclusive, há quem se tenha deslocado desde a a cidade [de Amarante] e mesmo da Régua e de Mesão Frio onde, por vezes, este tipo de serviços estão saturados”, explica.

Pormenor do Espaço Cidadão de Gondar (Foto de Paulo A. Teixeira).

Espaço Cidadão Sénior e Balcão SNS24 aumentam acesso a mais serviços

Gondar foi mais longe, contudo, com a implementação, em 2023, do Espaço Cidadão Sénior, uma valência que leva os serviços da Administração Pública diretamente ao local de residência daqueles fregueses a viverem em situação de isolamento ou com dificuldades em se deslocar.

O serviço é realizado uma vez por semana, mediante marcação prévia, por telefone. Um funcionário da Junta de Freguesia de Gondar desloca-se ao local de residência do requerente, munido de um computador com acesso aos vários serviços do Estado.

Hugo Vaz explica que este balcão móvel foi implementado especificamente para fregueses com mobilidade reduzida ou inexistente, acrescentando que eventualmente, poderá expandir o seu alcance a outras freguesias circundantes.

“Estamos a equacionar uma proposta à Agência para a Modernização Administrativa (AMA) indicando que estamos dispostos a ir além dos limites da freguesia, mas dentro de uma margem ainda por estabelecer”, acrescenta.

Outro projeto previsto para ser implementado em Gondar é o balcão SNS24, do Serviço Nacional de Saúde, em parceria com a AMA, que permitirá aos utentes renovar medicação e aceder a tele-consultas, entre outros.

Segundo o autarca, este balcão que, até ao fecho da presente da AMARANTE MAGAZINE, aguarda aprovação da tutela, proporcionará maior rapidez no acesso à saúde e “aliviará a pressão nos centros de saúde”.

Na área da saúde, aliás, a autarquia investiu na aquisição de um desfibrilhador automático externo (DAE), instalado na IPSS Bem-Estar e disponibilizado a todas as ambulâncias que cruzem o território.

A junta de freguesia pretende, ainda, ver instalados dois postos de carregamento de veículos elétricos em Gondar perto da zona do Cavalinho, no trajeto Porto e Régua.

“Faz sentido, Gondar é central nesta ligação entre o litoral e Trás-os-Montes. Por outro lado, acredito que, dada a sua natureza, os postos podem ter um efeito positivo na economia local, em particular da restauração”, explica Hugo Vaz.

Serviços da Administração Pública vão a casa do cidadão (Foto de Paulo Teixeira).

Cultura, património e gastronomia ajudam a dinamizar o território

Detentora de um passado rico em história e tradição, Gondar procura promover os seus principais atrativos através de uma campanha de marketing, dinamizada, sobretudo, nas redes sociais e através de um outdoor de grandes dimensões, no centro da cidade.

Orientado para um público sobretudo local, nomeadamente da margem direita de Amarante, o projeto visa promover vários eventos culturais da freguesia, como o corso de Carnaval, um dos mais emblemáticos de Amarante, e o Maio Cultural, uma iniciativa da junta de freguesia que preenche os fins de semana de maio com atividades culturais.

“Neste momento, o nosso maior atrativo assenta na restauração, onde temos várias empresas ativas, com alguns restaurantes a serem considerados de referência. É aqui, sobretudo, que esperamos ter, em termos económicos, o maior retorno deste projeto”, explica Hugo Vaz

E acrescenta: “Em termos de infraestrutura, a única que falta concluir Gondar é a do sistema de saneamento, que continua muito atrasada. Mas não depende de nós! Também acreditamos que não será possível inverter a tendência de regressão populacional, mas estou convicto que com estas novas valências, como o Espaço Cidadão, o Balcão SNS e demais programas, é possível, pelo menos, manter a população que cá permaneceu”.

Nota: este artigo foi publicado originalmente na edição em papel número 38 da revista AMARANTE MAGAZINE (Inverno 2024).

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