Alojamento local: “Casa do Mel” recebe visitantes do Marão

A "Casa do Mel" fica em Ansiães, bem no coração da Serra do Marão.

Vir ao Marão, desfrutar do que a serra oferece e “alojar-se” nela um fim de semana, não era possível até final do mês de julho. Desde então, sim: em Ansiães, no coração da montanha, abriu portas a “Casa do Mel”, uma unidade de alojamento local posicionada para um segmento médio alto. A anfitriã, Eduarda Miranda, regressa às origens para bem receber.

“Bem alto é o Marão e não dá palha nem grão”, diz o aforismo popular. E não dá mesmo, sobretudo às cotas mais altas, que sobem até aos 1.415 metros. Mas é daqui, do cume da serra, que descem linhas de água que alimentam e servem de leito a ribeiras e riachos que correm apressados, encosta abaixo, ao encontro dos povoados do sopé da montanha, habitados por gente rude e trabalhadora: gente que desbrava a terra, que cria animais que leva a pastar e usa no governo da casa, ou que tem como força de tração para a agricultura. Gente que faz o jugo ou a cesta. E que coze o pão.

E são muitas as atividades a que a serra convida: caminhadas, escaladas, desportos aventura (como o parapente), BTT e até a caça e pesca. E há locais que são de visita obrigatória: o Viveiro das Trutas; a Senhora de Moreira e a Senhora da Serra; a Casa das Neves, ou a Lameira.

No Marão, a tradição ainda é o que era e vive em aldeias preservadas: Canadelo, Covêlo do Monte, Murgido, Póvoa… Aldeias de casas feitas de xisto e granito, com cobertura de lousa, espigueiros e eiras em que o milho amarelece e seca; onde cada morador é comparte do território e usufrui do que os baldios dão, seja a lenha que a lareira consome no inverno, quando a neve chega, ou os pastos e as zonas de pastoreio onde se alimenta o gado: as cabras, as ovelhas ou as vacas maronesa. 

Aldeias onde ainda se ouve o acordeão e a rabeca chuleira, se canta ao desafio e se recebe com a Tuna os que em agosto retornam por saudade, de abraço apertado, para saborearem o fumeiro, o assado do forno ou o tinto guardado debaixo do lagar. E que sobem à ermida, agradecidos, pagando promessas e, em dia de festa, oferecem o ombro para transportar o andor na procissão.

Na serra do Marão, imponente, não é o particular que chama a atenção. É o todo que impressiona: as antigas minas de estanho e volfrâmio, de galerias profundas; o horizonte, largo, a perder de vista; a diversidade florestal, feita de carvalhos, bétulas, pinheiros larícios, conforme o solo e a altitude; a paisagem, o ar que se respira, as fragas, as escarpas, a urze ou a carqueja, os corsos ou a perdiz, a raposa e o lobo, às vezes… E o silêncio, que convida ao relaxe, à contemplação e à descoberta (in amarantetoueism.com).

Vir e (ter onde) ficar

Vista, desde os anos de 1990, como o pulmão da Área Metropolitana do Porto (sobretudo depois da eucaliptização da serra de Santa Justa), a serra do Marão tem registado, nos últimos anos, um notório aumento de procura por parte de turistas e visitantes, que tiram partido do que a serra oferece em termos ambientais e das situações de lazer que proporciona.

Porém, quem vem ao Marão e pretende desfrutar de um fim de semana na serra ou na sua envolvente, tem-se deparado com uma oferta de alojamento quase inexistente, que obsta à estadia, por duas noites que sejam. Constatando este facto, Eduarda Miranda, naquilo que foi um regresso às origens, abriu, recentemente, em Ansiães, a primeira unidade de alojamento local da zona ocidental do Marão. 

Trata-se da “Casa do Mel”, assim chamada por, no passado, seu pai, Arménio Miranda, ali fazer a extração do mel das muitas colmeias que tinha espalhadas pela serra. Pois bem, a “Casa do Mel”, que resultou do restauro de duas pequenas edificações, oferece cinco camas, distribuídas pelos quartos Zangão (suite); quarto Rainha e quarto Obreira. Os outros espaços da casa são uma sala comum e uma espaçosa e bem equipada cozinha, onde os hóspedes podem, se o pretenderem, preparar as suas refeições. Nesse caso, à chegada esperá-los-á um cabaz de legumes produzidos em campos da família.

Passando a  filosofia da “Casa do Mel” pela reciclar e reutilizar, os móveis (camas, mesas, cadeiras…) são, na sua quase totalidade, restaurados, sendo mesmo que, alguns, foram “resgatados” da rua, junto de contentores do lixo! Tendo a pedra como material dominante, a “Casa do Mel” (que se situa, claramente, num segmento médio-alto) é “rasgada” por grandes janelas, que permitem a abundância de luz no seu interior e proporcionam vistas largas sobre a aldeia e a serra.

Alojar não é o único objetivo da “Casa do Mel”. Para  além do pequeno almoço, incluído na estadia, a anfitriã, Eduarda Miranda, construíu uma oferta de refeições assente em pratos tradicionais do Marão (cabrito no forno, arroz de frango, bacalhau à serra) e “sandocha de pão de cantos” (trigo de Padronelo), feita de bife de vitela maronesa, ovo estrelado, queijo, alface e tomate.

Além disso, para quem se quiser aventurar na descoberta e fruição da serra, a “Casa do Mel” dispõe de cestas piquenique, que os hóspedes poderão transportar consigo, ou, no caso de fazerem rotas previamente definidas, como a PR6 ou o trilho “O Marão tem sangue azul”, ser-lhe-ão entregues em pontos do percurso previamente definidos. Os que quiserem ficar pela aldeia, poderão usufruir, no verão, da piscina há alguns anos construída pela Junta de Freguesia de Ansiães, entidade com quem a “Casa do Mel” celebrou, para o efeito, um protocolo.

Receber e acolher com distinção quem procura a serra do Marão é o objetivo de Eduarda Miranda com a sua “Casa do Mel”, mas esta economista de 48 anos, nascida em Ansiães, aposta também na dinamização e rendibilização da oferta do Marão, que poderá gerar valor através da criação de uma loja de produtos locais (fumeiro, mel, novidades do campo, vinho produzido a meia-encosta, pão e queijo tradicionais, chás e ervas aromáticas ou artesanato). 

Contactos: E: mira.marão2020@gmail.com; T: 937 219 062.

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