Baixo Tâmega: Serra da Aboboreira vai ser Área de Paisagem Protegida

Trinta anos depois, à segunda tentativa, a Serra da Aboboreira vai ser Área de Paisagem Protegida (Foto AM).

A criação da Área de Paisagem Protegida da Serra da Aboboreira é vista, entre os ambientalistas, como a última oportunidade de o distrito do Porto preservar um território que funcione como “pulmão” para quem habita a sua área metropolitana, depois dos enormes eucaliptais em que se transformaram as serras de Santa Justa, em Valongo e da Agrela, em Santo Tirso.

A SERRA DA ABOBOREIRA, que se distribui pelo território dos Municípios de Amarante, Baião e Marco de Canaveses vai ser classificada como “Área de Paisagem Protegida”, o que deverá acontecer já no próximo mês de abril. Depois, sabe AMARANTE MAGAZINE, deverá ser pedida, junto do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas), a integração da serra na Rede Nacional de Áreas Protegidas, o que lhe dará maior notoriedade e visibilidade.

A classificação está dependente da decisão conjunta das Assembleia Municipais dos três concelhos (e de posterior ratificação pela Assembleia Intermunicipal da Associação de Municípios do Baixo Tâmega – AMBT), que deverão aprovar também as condicionantes inerentes ao novo estatuto da serra que, no entanto, apurou AMARANTE MAGAZINE, não serão limitadoras do seu usufruto nem para quem a visita, nem para quem lá mora.

De resto, Amarante, Baião e Marco de Canaveses estarão mesmo apostados em melhorar as condições de vida nas aldeias da Aboboreira, com o objetivo de fixar população e, mesmo, estimular o retorno dos que já partiram. Este objetivo deverá tornar “minimalistas” condicionantes que tenham a ver com intervenções no edificado das aldeias, designadamente ao nível da (re)construção, algo que os respetivos PDMs já refletem.

A criação de áreas de Paisagem Protegida tem em vista, no geral, a preservação dos ecossistemas da sua fauna e flora, mas na Aboboreira vai-se mais longe, como explicou, recentemente, Paulo Pereira, Presidente da Câmara de Baião e da Associação de Municípios do Baixo Tâmega. Segundo aquele autarca, “existe um segundo enfoque muito importante que anda em torno do Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira”.

A Serra da Aboboreira (que ocupa uma área total de 118,9 quilómetros quadrados), foi povoada desde o Paleolítico Inferior (30 000 a.C.), época de que data o mais antigo achado ali recolhido – “um uniface de tipo acheuleuse, melhor diríamos um acheuleuse médio em caminho para o superior, talhado num calhau rolado de xisto metamórfico, um pouco micáceo e de cor acinzentada”, (Afonso do Paço, 1979) – e apresenta inúmeros vestígios do Neolítico e da Idade do Bronze, datados de 2 500 a.C., como o Dólmen de Chã de Parada. O povoamento mais intenso das aldeias da Aboboreira data do início da nacionalidade, com os seus habitantes a viverem exclusivamente da agricultura. 

O Dólmen de Châ de Parada é um dos mais emblemáticos exemplares do Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira (Foto AMBT).

Os trabalhos de investigação arqueológica na Aboboreira iniciaram-se em 1981, tendo sido liderados pelo Professor Vítor Oliveira Jorga, da Universidade do Porto.

Nas suas declarações à TSF, Paulo Pereira disse, ainda, que a Área de Paisagem protegida da Serra da Aboboreira “puxará pelas potencialidades do território e terá um efeito indutor sobre as economias local e regional, pela estruturação e valorização de uma oferta turística integrada, que será exigente na preservação ambiental”.

Entre as espécies a preservar estará o carvalho-alvarinho, existindo na Aboboreira a maior mancha daquela espécie na Península Ibérica.

À segunda é de vez

A criação da Área de Paisagem Protegida da Serra da Aboboreira é vista, entre os ambientalistas, como a última oportunidade de o distrito do Porto preservar um território que funcione como “pulmão” para quem habita a sua área metropolitana, depois dos enormes eucaliptais em que se transformaram as serras de Santa Justa, em Valongo e da Agrela, em Santo Tirso.

Esta oportunidade era já assinalada em 1989, quando, na sequência de uma tentativa por parte de empresas de celulose de criarem áreas de plantação de eucaliptos na Aboboreira, se desencadeou um movimento, então, inicialmente, liderado pela Quercus – Associação para a Defesa da Natureza, que pretendia a classificação da serra, naquela altura, como Parque Natural.

Estimulada por aquela associação ambiental, e ante a iminência de perder os pastos para o gado, a população serrana revoltou-se, desafiou as escavadoras e reivindicou a manutenção das condições naturais da serra. Foi, aliás, a partir dos acontecimentos da Aboboreira que se generalizou a todo o país a “guerra” aos eucaliptos.

Os incêndios e a destruição de algum património paisagístico e ambiental terão, porém, contribuído para deixar cair aquela intenção de classificação, por ser mais viável a de Área de Paisagem Protegida.

Do levantamento das potencialidades da serra da Aboboreira encarregou-se, no final dos anos de 1980, a Direção Regional do Ambiente e Recursos Naturais (DRARN), entidade que elaborou um documento de caraterização e diagnóstico, a partir de pesquisas efetuadas numa área de 35 quilómetros quadrados e que incluía uma freguesia do Marco de Canaveses (Folhada), quatro de Amarante (Gouveia-S. Simão, Bustelo, Carvalho de Rei e Carneiro) e três de Baião (Loivos do Monte, Ovil e Campelo).

Os objetivos, segundo o relatório elaborado, eram os de “caraterizar a serra, o potencial natural e económico e os seus elementos patrimoniais, por forma a avaliar-se da oportunidade de uma intervenção conjugada no sentido de, por um lado, valorizar esse conjunto e, por outro, incrementar iniciativas que possibilitem o desenvolvimento  da área em estudo”.

Entre as conclusões a que chegou a DRARN, e em relação ao coberto vegetal, escreveu-se no relatório que a “inventarição botânica efetuada (…), revelou existirem algumas zonas com formações de interesse e a conservar”. 

Quanto à fauna, “foram recenseadas, ao nível dos vertebrados, 42 espécies de aves, dez de mamíferos, quatro de anfíbios e cinco de répteis. Ao nível dos invertebrados, julga-se que a sua importância será maior, com saliência para os lepidópteros, dos quais sete espécies são consideradas raras ou em perigo na Europa Central”.

“A grande diversidade de borboletas”, acrescentava o documento, constitui um aspeto comprovativo de riqueza florística, em que se destacam espécies de grande beleza como são as liliáceas”.

A primeira tentativa de classificação da Aboboreira como Área de Paisagem Protegida viria a fracassar há duas décadas atrás por falta de empenho de Amarante e Marco de Canaveses, cujas Assembleias Municipais nunca votaram as medidas preventivas então propostas.

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