“Mães com amor” apoia mães de cidadãos com deficiência e incapacidade

Chama-se “Mães com Amor” e é um projeto de inovação social que, aos poucos, tem vindo a causar um impacto positivo na vida de um grupo de 20 mães de cidadãos com deficiência e incapacidade. Foi criado por Mónica Ribeiro, psicóloga e colaboradora da Cercimarante, cooperativa que também apoia este projeto.

“Enquanto colaboradora desta Cooperativa, de há 20 anos a esta parte, e nos contatos que fui tendo, nomeadamente em algumas entrevistas que fiz, encontrei muitas mães cansadas, depressivas, exaustas, com muitas dúvidas, anseios e medos, sentindo-se sós nesse longo caminho que é cuidar de alguém muito especial e, ao mesmo tempo, sem ninguém disponível para as ajudar. Enquanto psicóloga, e para meu enriquecimento e valorização pessoal, senti que esta era a altura certa de as ajudar”, explica Mónica Ribeiro, que idealizou este projeto, apresentou-o ao Conselho de Administração da Cercimarante, e o mesmo foi aceite e aprovado.

Quando questionada sobre o nome que escolheu para o projeto, a psicóloga é perentória: “Estas mães são muito especiais, e têm um amor especial, tão forte e tão profundo para com os seus filhos. Por isso, só poderia chamar-se ‘Mães com Amor’”.

O projeto decorre desde o dia 27 de abril de 2019, e vai já na terceira sessão. Uma vez por mês, o grupo de mães tem encontro marcado com Mónica Ribeiro, nas instalações do Centro de Formação e Reabilitação Profissional (CFRP), da Cercimarante, e para além da partilha de emoções, preocupações, vivências e medos, há também lugar para a realização de algumas atividades lúdicas, como almoços de grupo, ou mesmo a visita a alguns dos Serviços da Cooperativa, ou a pontos de interesse cultural e/ou eventos no concelho de Amarante, que permitem a estas mães terem momentos para elas, de descanso, distração e convívio.

“Algo que é fundamental para estas mães, pois cuidar dos filhos preenche-lhes a quase totalidade do tempo. E é importante que também possam ter tempo para elas, para cuidarem delas, para se distraírem, passearem, sem qualquer sentimento de culpa”, sublinha a psicóloga.

Dos objetivos do projeto fazem parte, “o apoio emocional, centrado na pessoa com vista à partilha das suas emoções; análise do impacto que a deficiência dos filhos teve/tem em si e na sua família; co-responsabilização parental, focada na aquisição de competências para o desempenho da função parental no processo de inclusão dos seus filhos com deficiência, ao longo da vida; psicoeducação de pais (mães) prestadores de ajuda, em que após um processo de profunda reflexão sobre o que é, pedir e prestar ajuda, procurar que as mães adquiram competências ligadas à comunicação com outras mães, descentrando-se das suas próprias vivências, e ajudar as mães que enfrentam recorrentes e imprevisíveis desafios, a estarem informadas, capacitadas e fortalecidas”.

Para além destes objetivos, há também lugar à organização de passeios, visitas e convívios, ao longo do ano. Dentro daquilo que pode partilhar, sem nunca expor os assuntos das mães que participam, Mónica Ribeiro realça o que mais a tem tocado, nestas sessões: “A necessidade que estas mães têm de partilhar as suas experiências, emoções e desejos. Precisam de ser ouvidas, amadas e compreendidas”.

“Um projeto de máxima importância”

Algumas das vinte mães que têm participado no projeto aceitaram dar o testemunho, e destacaram caraterísticas da iniciativa.
Para Cristina Peixoto, “Mães com Amor” é a consciencialização efetiva das necessidades mais prementes, vivenciadas por grande parte das mães: “Considero que é um projeto de máxima importância, numa sociedade cada vez mais egocêntrica e afastada do outro. Assim, urge a vontade de partilhar as mesmas dificuldades, anseios, vivências e preocupações”.

Também Teresa Teixeira caracteriza o projeto como “excelente, importante e muito interessante”.

“Noto que as outras mães estão, igualmente, felizes com esta experiência. Têm sido ótimos momentos de partilha de preocupações, vivências e emoções”, sublinha esta mãe.

“Fazem-nos sempre bem estes momentos, onde nos vamos confortando umas às outras”, realça Raulinda Silveira, que diz estar “feliz com esta partilha de momentos bons e até os menos bons, e algumas lágrimas”.

No mesmo sentido, Eva da Silva também expressa uma opinião muito positiva: “Estou a adorar participar, pois é algo que nós [mães] nunca tivemos. Falamos dos nossos filhos, dos nossos anseios, saímos de casa e temos algum tempo para nós. Damos força umas às outras. Tem sido maravilhoso. Além disso, também temos passeado. Ainda este sábado, almoçamos juntas no CFRP, e visitamos, depois, o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, coisa que, com 68 anos de idade, nunca tinha feito”.

Projeto aberto à Comunidade

De salientar que, o projeto é gratuito, aberto à Comunidade, e não se dirige apenas às mães dos clientes/formandos dos Serviços da Cercimarante. “Não fazia sentido restringir a participação às mães dos clientes/formandos da Cercimarante porque, com certeza, existem muitas “Mães com Amor”, em todo o concelho de Amarante”, esclarece a psicóloga Mónica Ribeiro.

A próxima sessão do projeto está marcada para 26 de julho, e a criadora do mesmo deixa um convite especial a todas as mães de cidadãos com deficiência e incapacidade. “Estou muito feliz com a evolução que estas sessões têm tido. Sinto que estas mães com amor estão felizes e que, aos poucos, vão sentindo este projeto como sendo também delas. E já estão a preparar algumas surpresas, para os próximos tempos, com grande entusiasmo. Ao ver este impacto tão animador e positivo, gostaria de deixar um convite a todas as mães de pessoas com deficiência e incapacidade, quer tenham ou não os filhos a frequentar a Cercimarante, para que venham também participar neste projeto. Cada uma terá o seu lugar especial no “Mães com Amor”.

CONTINUAR A LER

Deixe um Comentário

Pode Também Gostar