Sexta-feira de junho? Que pena, hoje não há despique de bombos…

Esta sexta-feira de junho, não é um dia normal. À noite, não haverá despique de bombos na cidade de Amarante (Foto AM).

Se esta sexta-feira fosse um dia normal… Mas não, esta sexta-feira, 4 de junho, não é um dia normal. É em casa que vamos celebrar S. Gonçalo. Pelo segundo ano consecutivo, não haverá Festas do Junho. Nem despique de bombos! Talvez para o ano.

Se, hoje, 4 de junho, fosse uma sexta-feira normal, o dia na cidade de Amarante teria começado com uma salva de morteiros e uma arruada de bombos; as ruas estariam engalanadas; no Largo da Igreja de S. Gonçalo, o coreto estaria a postos para receber a primeira banda; a partir do meio da tarde, as ruas do centro da cidade começariam a encher-se de gente, muita vinda de fora e transportando farnel; os carrinhos de choque teriam sido oleados para “mais uma corrida, mais uma viagem”; ao comprido das ruas, haveria barracas com doce da Teixeira e “os tais” de S. Gonçalo; o ar teria cheiro a devoção e promessas e a partir das dez da noite haveria despique de bombos, com muita gente a assistir, apertadinha, corpos a tocarem-se (“com sua licença, deixe-me passar a ver se consigo chegar lá à frente”); à meia noite, pausa no despique, “vem aí o fogo”: meia hora dele (“botado no rio e na Ponte Nova, um regálo, já ganhei a noite”)… Que é ainda uma criança e o despique haveria de continuar até lá para as quatro ou cinco, assim aguentassem os pulsos dos tocadores e houvesse um vencedor!

Tudo isto sem máscaras ou álcool-gel. Mas não. Esta sexta-feira não é um dia normal. É em casa que vamos celebrar S. Gonçalo. Pelo segundo ano consecutivo, não haverá Festas de Junho. Nem despique de bombos. Talvez para o ano!

(Em Amarante, S. Gonçalo é celebrado duas vezes. A primeira a 10 de janeiro, quando se evoca a sua morte; e a segunda no primeiro fim de semana de junho, quando a cidade se enche de romeiros movidos pela crença e pela folia, numa mistura única de religioso e profano.

E vai-se ao junho. “Ir ao junho” é desfrutar do fogo de artificio, subir ao coreto e espreitar a banda, acompanhar as arruadas e os despiques de bombos, envolver-se nas rusgas, é ir para casa quando o sol raiar. É molhar os pés no Tâmega, montar uma guiga e olhar a ponte ao contrário. É entrar na procissão, fé marcada a compasso com a filarmónica, oferecer cravos ao beato, é ser mulher e puxar-lhe a corda do hábito, pedindo marido, com a promessa de que o primeiro filho se chamará Gonçalo. É estreitar de abraços os amigos de fora, que vieram para festa, e que se recebem com verde e presunto. É subir do Arquinho a Santa Luzia e olhar de soslaio as barracas dos doces e reinar com o tamanho dos de S. Gonçalo, alguns para cima de metro, que a imaginação e a ironia não se medem aos palmos.

“Ir ao junho” é viver Amarante. É entrar nas tradições e nas vivências do povo que habita a terra e que celebra, orgulhoso, a sua cultura e identidade). (1)

Talvez (de novo) para o ano!

(1) Os três penúltimos parágrafos foram “roubados” do texto “Um beato com fama de santo: S. Gonçalo, História ou Lenda?”, publicado em AMARANTE TOURISM.

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