Advogado, Armindo Abreu, 71 anos, foi Presidente da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal de Amarante. Eis o seu testemunho sobre a Revolução de Abril.
O 25 de Abril “apanhou-me“ em Coimbra, no segundo ao do Curso de Direito de 72/77. Na altura, beneficiava do adiamento da incorporação no Exército, que me foi legalmente concedido até à conclusão do curso, desde que com aproveitamento normal, isto é , sem “chumbos”. De outro modo, o 25 de Abril ter-me-ia encontrado algures na guerra numa das então colónias portuguesas, ou, talvez, no estrangeiro.
Na altura já tinha a informação suficiente para ter a consciência clara da injustiça da guerra, da sua insustentabilidade a curto prazo e da iniquidade e isolamento internacional do regime.
Sobretudo, as noticias que tinha dos meus amigos que, entretanto, cumpriram o serviço militar na guerra colonial, das lutas estudantis dos anos sessenta e da emigração europeia, .por um lado, e a minha própria experiência e algum conhecimento histórico que tinha, por outro, já há muito tinham formado em mim a convicção de que viva num país retrogrado, com níveis de pobreza e de analfabetismo vergonhosos, com um regime autoritário e de que era inexorável a independência das colónias.
Como a esmagadora maioria dos jovens da minha geração, aspirava ao fim da guerra, com a independência das Colónias, e a viver num país de Liberdade, de igualdade e desenvolvido. Por isso, vivi intensamente o 25 de Abril, com entusiasmo e empenho juvenil de contribuir na construção de um novo Portugal, que fui entendendo só possível em regime de democracia representativa, que se veio a consolidar.
Passado o curto período da festa e da euforia em reuniões gerais de alunos ( RGAs, em espectáculos de “canto livre”, no primeiro 1º- de Maio,“…etc….etc.) concluí o segundo ano de Direito nesse ano e resolvi passar ao estatuto de aluno voluntário, regressando a Amarante, onde acumulei a minha actividade de estudante com a do ensino e da política local. Na verdade, logo no verão de 74, fui convidado e aceitei ser presidente da Comissão Administrativa da Freguesia de Mancelos até às primeiras eleições autárquicas, que se realizaram em Dezembro de 1976, fui candidato à Câmara e fui professor até à conclusão do curso. A partir daqui, dediquei-me, a tempo inteiro, ao estágio para ingresso na actividade de advogado, que iniciei com a convicção de que seria a minha actividade profissional até à reforma, o que não veio a acontecer, como é sabido. Mas nunca me demiti de dar o meu contributo, ainda que modesto, para a afirmação dos ideais de Abril, dos que se cumpriram ( descolonização e democracia ) e o terceiro (o desenvolvimento) que se continua a cumprir e que ninguém, de recta consciência, pode negar, apesar das dificuldades, dos avanços e recuos.
Viva o 25 de Abril…. Sempre!
