Caminho de Torres a um passo da certificação

Realizado ao longo de dois dias, em Amarante, o primeiro Congresso Internacional do Caminho de de Santiago – Caminho de Torres debateu a importância do trabalho conjunto para a valorização e promoção do Caminho de Torres e dos Caminhos de Santiago. 

Desde 2017 que o Caminho de Torres, que liga Salamanca a Santiago de Compostela – e que em Portugal se estende por 234 quilómetros, entre a Ponte do Abade (Sernancelhe) e a ponte internacional sobre o rio Minho (Valença do Minho) – tem sido objeto de requalificação, liderada pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, em parceria com as comunidades intermunicipais do Alto Minho, do Ave, do Cávado e do Douro.

O projeto, designado “Valorização Cultural e Turística do Caminho de Santiago – Caminho de Torres”, teve um investimento global de cerca de um milhão de euros, cofinanciado pelo Programa Operacional Regional do Norte (Norte 2020), através do FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional).

Trabalhar em rede foi uma das ideias mais defendidas nos dois dias do Congresso, no qual foi também assinado um protocolo de gestão do Caminho de Torres, pelo Turismo do Porto e Norte de Portugal, E.R. e as CIM do Tâmega e Sousa, Alto Minho, Ave, Cávado e Douro. 

A importância da certificação

Portugal é já ponto de partida para muitos peregrinos que rumam a Santiago de Compostela. Segundo dados apresentados no Congresso, em 10 anos o número de peregrinos que fazem os Caminhos a partir de Portugal, mais do que duplicou. No entanto, apenas um dos Caminhos portugueses está certificado, o Caminho de Alentejo e Ribatejo. A certificação para o Caminho de Torres, acredita-se, não deverá demorar muito, já que o dossiê da candidatura está em fase de finalização.

Mas, quais as vantagens da certificação? “A certificação do Caminho dá o direito ao uso da marca, o acesso ao financiamento para salvaguarda e valorização, o acesso a divulgação e promoção internacional, assim como o reconhecimento do interesse público nos itinerários”, referiu Paulo Almeida Fernandes, assessor científico do projeto de valorização cultural e turística do Caminho de Torres. Desde 2016 que os Caminhos de Santiago, em Portugal, estão na lista indicativa do Património Mundial. Segundo Paulo Almeida Fernandes “é possível que esses dez anos tenham que ser renovados por mais dez, ou talvez mais, porque é necessária uma grande consistência nacional para os Caminhos.” O professor, que apresentou no Congresso o livro “Caminho de Torres, História de um caminho, um caminho na História”, partilhou a sua experiência como consultor histórico deste projeto, contanto que o percurso do Caminho de Torres – que tinha sido inicialmente identificado por Luís Quintales (catedrático na Universidade de Salamanca) – teve que ser alterado em algumas partes do percurso para lhe dar uma maior autenticidade histórica, mas também para proporcionar mais segurança a quem o percorre. Para tal, foi feito um levantamento do Caminho, que Paulo Almeida Fernandes calcorreou com a ajuda de peregrinos, e produzido e entregue um relatório por cada município onde o Caminho passa, prevendo as alterações de percurso e locais que precisavam de sinalética. No total, foram colocadas mais de 1500 placas de sinalização, a típica “concha” dos Caminhos de Santiago. 

O saber receber 

Outro dos aspetos que muito se debateu, foi a necessidade da criação de albergues ao longo do Caminho de Santiago e, em específico, no Caminho de Torres. Entre os que mais defenderam esta necessidade, estava a Associação Espaço Jacobeus, a Associação de Peregrino Via Lusitana, Associação Amigos do Caminho Português, Associação Albergue Cidade de Barcelos e a Rede de Apoio aos Peregrinos em Portugal. “Sem albergues não há Caminho”, defenderam quase em uníssono. E, para além da existência dos albergues, o espírito jacobeu, o saber receber, foi também muito destacado. Os representantes dos peregrinos foram também unânimes em referir que é preciso alguma cautela com a divulgação turística do Caminho, pois o espírito da peregrinação não deve ser perdido. 

Para o presidente da Entidade Regional do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, o turismo e a espiritualidade podem caminhar lado a lado e devem “aproveitar turisticamente a sua complementaridade”, criando o desejo aos peregrinos de “voltar a percorrer o Caminho, ou outros Caminhos, através da criação de condições de garantia de segurança rodoviária, saúde, sinalização, transitabilidade, mas também, prestação de serviços de qualidade, de acolhimento e de promoção.”

Para o assessor científico do Caminho de Torres, Paulo Almeida Fernandes, “Caminho há só um, é a forma como o peregrino escolhe para chegar a Santiago de Compostela.” Em julho, o Caminho de Torres volta a estar em destaque, com sessões de apresentação em Espanha: em Salamanca, no dia 9, e em Santiago de Compostela, no dia 16. O programa destas iniciativas encontra-se disponível no site www.caminhodetorres.pt

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