Eram irmãos e nasceram ambos na rua do Seixedo, freguesia de S. Gonçalo, em Amarante. O primeiro viu a luz do dia em 1755; o segundo em 1756. Já adultos, partiram para o Brasil, onde se tornaram “tropeiros” e fizeram fortuna. (O tropeiro é o sucessor directo do sertanista e o precursor, em muitos pontos, do grande fazendeiro, disse Sérgio Buarque de Holanda). Conheça a História de sucesso destes amarantinos!
LUÍS ANTÓNIO DE SOUSA
Uma das principais artérias de S. Paulo, Brasil, mega-cidade com mais de doze milhões de habitantes e a oitava maior do mundo, homenageia um amarantino que foi militar e grande comerciante e proprietário na antiga Capitania Real de S. Paulo.
A Avenida Brigadeiro Luís António, com extensão de cerca de 5,4 quilómetros, cruza com a famosa Avenida Paulista e, a par de prédios modernos, ainda conserva bastantes edifícios do século XIX e inícios do século XX. Nela localizam-se alguns teatros, hospitais, repartições públicas e muitos estabelecimentos culturais, comerciais e financeiros, entre os quais a sede do Grupo Pão de Açúcar. Foi aberta em 1894 pela baronesa de Limeira em terrenos que pertenciam à família Sousa Queirós sobre a antiga Rua de Santo Amaro, tornando-a bastante mais extensa. Rodeada de “bairros jardins”, predominavam nessa época os palacetes, a maior parte já demolidos. Em 1900 foi inaugurada uma linha de carros eléctricos e nos anos seguintes essa avenida teve grandes obras de ampliação, beneficiação e consolidação urbana.
Luís António de Sousa nasceu na Rua do Seixedo, freguesia S. Gonçalo da vila de Amarante, a 7 de Janeiro de 1755. Foi o segundo, de cinco filhos, de José Luís de Sousa e de sua mulher Ana Maria de Macedo, que tinham casado na mesma freguesia três anos antes. [i]
Os pais, apesar de não terem fortuna, reivindicavam parentesco com famílias nobres da região, nomeadamente, as dos Queirós, Macedos e Sousas.
José Luís de Sousa, natural da freguesia de Sanche, nasceu no lugar do Paço a 10-12-1725, sendo filho de Manuel Francisco de Sousa e de Maria de Sampaio, neto paterno de Domingos Vaz, falecido em 1739 sem assistência religiosa, pelo que os herdeiros foram multados pelo pároco em 500 reis, e de Ana Francisca, e materno de Manuel de Sampaio e Paula Martins.
Ana Maria de Macedo tinha nascido a 18-3-1725 na Rua de S. Pedro, Amarante, e foram seus padrinhos de baptismo o licenciado Jacinto Teixeira de Magalhães, da Casa de Pascoaes, Gatão, e uma vizinha, Ana Maria, filha de Gonçalo Peixoto de Vasconcelos, da casa da Portela. Era filha de Manuel Teixeira Flórido e Luísa de Sousa Macedo, casados a 26-08-1722 na igreja de S. João de Gatão, freguesia vizinha de Amarante, donde ambos são naturais, como consta nos assentos de baptismo dos netos. Pela parte paterna era neta do padre Gaspar Ribeiro Teixeira (1642/1701), natural e morador em Amarante, e de Maria de Arnoia, mulher solteira.
Os seus avós maternos, Tomé Pinto e Maria de Sousa Macedo, moraram no lugar da Quintã, também em Gatão, e tinham ambos falecidos em 1708 com tantas dívidas que os filhos renunciaram à herança.[ii] No entanto, esta Maria de Sousa aparentava-se com abastados lavradores de Gatão e Salvador do Monte.
Luís António e o irmão Francisco António emigraram para o Brasil por volta de 1775 e estabeleceram-se algures na capitania de S. Paulo. Ambos começaram por transitar mercadorias entre S. Paulo e Santos. Tornaram-se tropeiros (condutores de bestas de carga), levando bens alimentares, por mais de mil e quinhentos quilómetros de caminhos inóspitos, para a região de Cuiabá, actual capital do estado de Mato Grosso, onde, no início do século XVIII, tinham sido descobertas importantes jazidas de ouro. Tiveram grande sucesso neste negócio com os garimpeiros e, em pouco tempo, de tropeiros passaram a organizadores dessas expedições e proprietários das mulas que compravam na grande feira anual de Sorocaba. Sabe-se que em 1779 residiam em Pinheiros, nos arredores da cidade de S. Paulo. Diz-se que ambos omitiram o apelido Queirós para não beliscar os pergaminhos fidalgos desse ramo da sua família, atendendo à profissão pouco considerada que tinham.
O tropeiro é o sucessor directo do sertanista e o precursor, em muitos pontos, do grande fazendeiro (Sérgio Buarque de Holanda).
[i] ”Luiz Antonio filho legitimo de Joze Luiz, e de sua molher Anna Maria de Macedo da Rua do Seyxedo desta Freguezia de Sam Gonçallo da Villa de Amarante neto pella parte Paterna de Manoel Francisco e de sua molher Maria de Sampayo ia defuntos da Freguezia de Santo Izidoro de Sanche da Comarca de Villa Real, e pella materna de Manoel Teyxeyra Florido, e de sua molher Luiza de Souza naturaes da Freguezia de Sam Joam de Gatam, e moradores em a Rua nova desta mesma Villa e Freguezia; nasceu em os sete dias do mez de Janeyro do anno de mil seteçentos sincoenta, e sinco annos e foy Baptizado solemnemente nesta Parochial igreja de Sam Gonçallo em os doze dias do sobredito mez e anno por mim o Padre Silvestre Cerqueyra Ribeyro cura desta freguezia e teve os Santos olleos. Foram Padrinhos o Padre Manoel Preyra Barboza e Maria Thereza solteira, Filha que ficou de Manoel Pinto Gomes da mesma Rua do Seyxedo desta Villa; testemunhas Joze Carvalho filho de Manoel Carvalho do pe da Senhora d´ajuda, e Joam Ribeyro meus fregueses, que comigo aqui assignaram em o dia, més, e anno supra. O cura Silvestre Cerq.ra Ribr.o” – Arquivo distrital do Porto – PT-ADPRT-PRQ-PAMT33-001-0011_m0075.
[ii] No processo de justificação de nobreza para obtenção de Carta de Brasão de Armas requerido em 1820 por Francisco António de Sousa Macedo e Queirós (Instituto dos Arquivos Nacionais /Torre Tombo – PT-TT-CR-D-A-004-0053-00007), encontra-se apensa uma certidão de casamento, celebrado a 4-9-1721, de um Manuel Teixeira, natural de Telões, com uma Luísa de Sousa, natural de Amarante, que, apesar da coincidência de nomes e proximidade cronológica, não podem ser os seus avós maternos, pois tanto no seu assento de baptismo, como no dos irmãos, estes avós são dados ambos naturais de Gatão.
