Padre Mário de Oliveira: S. Pedro de Ataíde, 13 de maio de 1970

No ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução de 25 de Abril, convém recordar um episódio que a muitos passou despercebido, mas que fez parte do processo do julgamento de uma figura que então passou a ser conhecida em todo o país: Mário Pais de Oliveira, mais conhecido por Padre Mário da Lixa.

Conheci-o, nos finais da década de sessenta do século passado, em casa do Padre Luís de Sousa, pároco de Ataíde, onde se reunia um grupo de jovens católicos. O Padre Mário era presença habitual e animava as reuniões com a sua oratória fluente, uma visão inovadora do cristianismo e canções de intervenção que nos dava a conhecer. Em 1970 foi convidado para fazer as homilias/sermões das cerimónias religiosas dedicadas a Nossa Senhora de Fátima dos dias 12 e 13 de Maio.

Mário Pais de Oliveira nasceu em Lourosa a 8 de Março de 1937, filho de David Gomes de Oliveira e Maria Alice dos Santos. Foi ordenado sacerdote a 5 de Agosto de 1962 e durante cinco anos foi coadjutor da paróquia das Antas, Porto, e professor de Religião e Moral nos Liceus Alexandre Herculano e D. Manuel II, da mesma cidade. Seguidamente, foi enviado para a então província da Guiné como capelão militar do Batalhão de Caçadores 1912, estacionado em Mansoa, onde só permaneceu quatro meses. Foi expulso, sem qualquer julgamento, por pregar contra a guerra e pelo direito dos povos colonizados à sua autonomia e independência. Regressado a Portugal paroquiou a freguesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, donde foi exonerado, ao fim de 14 meses, pelo então bispo auxiliar do Porto, D. Florentino Andrade e Silva, que substituía D. António Ferreira Gomes, exilado por Salazar em Espanha.

Com o regresso do bispo titular, D. António atribuiu-lhe a paróquia de Macieira da Lixa, Felgueiras, de que tomou posse em Outubro de 1969. Tornou-se, logo, numa figura popular devido ao seu comportamento não convencional no convívio com os paroquianos e pela atitude pouco ortodoxa com que abordava na igreja temas como a miséria do povo, a guerra e a independência das colónias, a governação do país e as crenças populares. Consideravam-no de grande rectidão moral e criador de um ambiente de verdadeira fraternidade, um pobre entre pobres que recusava os direitos paroquiais e, mesmo para alguns, era tido como um santo. Também granjeou alguns inimigos a começar pelo presidente da Junta de Freguesia, Júlio de Sousa Lemos, que, em finais de Abril de 1970, o denunciou na delegação do Porto da Direcção Geral de Segurança, a polícia política do regime, sucessora da PIDE. O mesmo encabeçou um abaixo-assinado de doze paroquianos no qual completava a denúncia com frases atribuídas ao pároco que configuravam a ataques ao Governo e à PIDE e com orações pela independência das colónias que o padre Mário não se coibia de fazer publicamente e em celebrações religiosas.

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