Canadelo: dia 29 cumpre-se a “Lenda de S. Pedro”

A 29, Canadelo celebra S. Pedro (Foto AM).

Depois da pandemia, este ano é o segundo que Canadelo vai cumprir a “Lenda de S. Pedro”, o festas em sua honra, a 29, independentemente de a data acontecer fora do fim de semana.

Em tempos, segundo a lenda, S. Pedro, que habitava um cume do telhado da Igreja, zangado porque não eram realizadas festas em sua honra, “desertou” para umas fragas próximas, em território neutro, onde, dias mais tarde, recebeu uma delegação da freguesia, que lhe implorou o regresso. O santo anuiu, mas com a condição de, todos os anos, lhe ser feita uma festa, a 29 de junho, independentemente do dia da semana. 

É altura de muitos filhos da terra, emigrados, subirem à serra da Meia Via, celebrarem S. Pedro e matarem saudades. Outros, porventura a maioria, virão com o mês de agosto e ali ficarão por mais de uma semana, gozando a terra, o ar puro, o rio Olo, por entre conversas e merendas de broa, cebola crua, presunto e enchidos.

Em boa verdade, as festas em Canadelo, vão começar a 28 de junho, logo pela manhã, com grupos de bombos, realizando-se, à noite a Procissão das Velas. Vinte e nove, porém, é o dia grande, com Missa Solene em honra de S. Pedro, com concerto pela Banda Musical de Amarante e com Procissão dedicada ao santo, percorrendo as ruas da freguesia.

População envelhecida e em decréscimo

Canadelo integra, desde 2013, a União de Freguesias de Olo e Canadelo, pelo que não há dados populacionais desagregados por cada uma das antigas freguesias. No último censos, realizado em 2021, moravam na UF 434 cidadão, e a população tinha decrescido 11,8% em relação a 2011, acreditando-se que o maior decréscimo tenha acontecido em Canadelo.

Em 1950, viviam em Canadelo 540 pessoas. O censo de 2011 registou apenas 121 residentes, sendo que 37,19% tinham mais de 65 anos. Ou seja, Canadelo perdeu 429 habitantes em 61 anos e nos que restam há uma grande percentagem de idosos.

No início da década de sessenta do século XX moravam na aldeia 482 pessoas. Os homens trabalhavam maioritariamente na floresta, na apanha da pinha, eram resineiros ou cantoneiros e as mulheres cuidavam da casa e dos filhos e praticavam uma agricultura de subsistência. 

Um morador, dos poucos que frequentou o ensino superior e se licenciou, recorda que a iluminação era feita à luz da candeia e que em Canadelo havia, à época, uma mercearia, onde os residentes se abasteciam dos produtos que o campo não dava. As pessoas compravam fiado e pagavam à semana. Nos tempos livres de domingo, ía-se ao baile, à tarde, ou jogava-se à malha e à sueca.

O correio chegava a Canadelo levado por uma habitante que, logo pela manhã, se fazia ao caminho em direção à cidade, levando, na ida, num saco de lona verde, lacrado, as cartas dos familiares ausentes, as chamadas para a tropa e os aerogramas dos soldados que lutavam na guerra colonial, em África. 

Ao todo, a “recoveira” percorria, a pé, 32 quilómetros e quando, pelo fim da tarde, chegava a Canadelo, para além de levar o correio, já tinha também “aviado” os recados que outros habitantes lhe haviam solicitado.

As idas à cidade pelo correio continuaram durante bastantes mais anos e o volume do saco de lona foi mesmo aumentando, pelas novas que passou também a trazer sobretudo de França, para onde os homens haviam começado a emigrar em massa. O mesmo habitante com quem AMARANTE MAGAZINE falou, recorda que iam a salto, pagavam 11 contos (22 euros), mas nem sempre corria bem. Duma das vezes, algures próximo da fronteira de Chaves, foram presos 40, sendo que cinco ou seis eram de Canadelo.

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